quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Um 2009 alado.

Que 2009 seja um ano alado! Que as asas dos desejos e das vontades lhe levem aos melhores momentos de sua vida. 2008 foi-se. Que vá, levando as coisas ruins e chatas. Que passe o bastão dos novos desafios e das mudanças para o ano que entra tomar conta e correr feliz para a linha de chegada. Viva! Intensamente. Sem arrependimentos e pleno de novas emoções, sensações e descobertas. E que aquele plano secreto, que você não contou pra ninguém, também se concretize. É o que quero para mim. É o que eu desejo para você que me lê, daqui do meio do mato, nos arredores de Campinas. Beijo gordo e feliz. SF.

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segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Espelho, espelho meu...

O que mais impressionou Elaine não era o fato de Eupídio ser carinhoso e atencioso com ela. Claro que isso também contava. Mas ela se interessou de vez por ele quando percebeu que ele deixava sempre o último pedaço, a última cereja do bolo, a última almondega, o último gole de coca-cola para ela. Elaine tinha uma teoria: enquanto o outro lhe cede o último pedaço de comida o amor ainda existe. Abrir mão de comida era para ela a prova suprema de que a felicidade do outro é prioridade, ainda que a custo de nossa fome. Ela chamava isso de jujum do amor.

Na verdade, Elaine era uma mulher de teorias. Defendia uma outra que chamava de banquete dos leões. Dizia que quando o casal não mais protegesse um ao outro, mas, ao contrário, quando um cônjuge começasse a oferecer o outro de bandeja para ser objeto de chacota da sua família, os leões da teoria, o amor já estava dando sinais que partira.

Eupídio, por sua vez, era um cara tranqüilo. Levava as teorias da mulher na boa, como se fosse um jogo argumentativo no qual entrava por diversão, nunca a sério. Deixava a última porção sempre para ela porque era um cavalheiro, numa época em que isso soa démodé. Jamais permitia que ela fosse objeto dos papos ácidos de sua família, nos almoços de domingo, porque a amava. Era atencioso porque sabia que tudo que uma mulher precisa é de atenção, alguém que a ouça. Mulheres são movidas a silêncio dos outros.

Um dia, Elaine colocou na cabeça que Eupídio não gostava mais dela. Do nada. Ele continuava deixando a última colherada do mousse de cupuaçu para ela. Nunca havia deixado que ninguém da família dele falasse sequer uma vírgula a criticando, a despeito de suas infinitas manias que se sobressaiam a olhos vistos e de seu ciúme shakespeareano. Sempre que ela falava ele não só ouvia como escutava. Mas ela encasquetou. Na hora do café da manhã.

– Mas, Laine, por que...
– Você não gosta mais de mim! Pára de negar! Ontem, no aniversário da tia Dorzinha, meus irmãos e meus primos me fizeram ver isso. Você não cuida de mim, não me dá mais atenção. Eu falo e você já não me ouve. Eu estava cega e eles me trouxeram a luz.
– Mas, Laine. De onde você...
– Deve ter outra. Com certeza tem outra. Nem abre nem mais a porta do carro pra mim...
– A porta é automática, amor, abre com o alarme.
– Sem desculpa, Eupídio Augusto. Sem desculpa. E não gosto de ser interrompida! Pra mim chega!

Elaine raspou o pote de manteiga, passou no último pão de queijo da cestinha, tomou o gole de suco que restava na caixinha e saiu batendo a porta. Largou Eupídio, esse insensível.

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Silêncio

Depois dos quarenta tenho tentado falar menos e ouvir mais. Quanto mais a gente fala, mais bronca arruma. É fato. Está sendo um bom exercício. Tenho fugido de gente que engole pausa. João Cabral de Melo Neto já avisava: "Nem deve a voz ter diarréia"...

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sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Música sexta à noite...

No Media Player: "Amado", Vanessa da Mata, de um beleza singela; "Across the Universe", Beatles, paixão antiga; "If I fell", Beatles de novo, o hino dos que têm medo de se apaixonar:

If I fell in love with you / Se eu me apaixonar por você
Would you promise to be true / Você jura ser sincera
And help me understand / E me ajudar a entender
´cause I´ve been in love before / Porque eu já me apaixonei antes
And I found that love was more / E descobri que o amor é mais
Than just holding hands / Do que simplesmente andar de mãos dadas

If I give my heart to you / Se eu der meu coração a você
I must be sure / Eu tenho de ter certeza
From the very start / Desde o começo
That you would love me more than her / Que você vai me amar mais do que ela
If I trust in you oh please / Se eu confiar em você, por favor,
Don´t run and hide´/ Não fuja e suma
If I love you too oh please / Se eu lhe amar também
Don´t hurt my pride like her / Não fira minha auto-estima
´cause I couldn´t stand the pain / Porque eu não suportaria a dor
And I would be sad if our new love was in vain / E eu ficaria triste se nosso amor fosse em vão
So I hope you see that I / Então espero que você perceba que eu
Would love to love you / Adoraria lhe amar
And that she will cry / E que ela vai chorar
When she learns we are two / Quando se der conta que nós somos um casal

If I fell in love with you / Se eu me apaixonar por você..

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Lista de desejos 2009

[Outro texto antigo (de 2005) adaptado para 2009, mas com votos tão sinceros quanto os da época. Feliz Ano Novo!]


“Sonho que se sonha só é sonho. Sonho que se sonha junto é realidade”.
Dom Helder Câmara

As festas de fim de ano estão dobrando o canto. “Canto” é esquina, para quem não fala Amazonês. Lá vêm elas, serelepes. O Natal com seus papais-noéis, saiuns-de-Manaus, suas luzinhas amarelas e suas inefáveis músicas de harpa. O comércio vibra com o seu melhor momento no ano. Todo mundo correndo atrás dos agrados e mimos. Shopping centers lotados. Amigos-secretos pululam nas repartições. Limite de dez reais, claro. O que vale é que ele venha cheio de boas intenções. Logo depois do Natal vem o novo Ano Novo, com seus brancos nas roupas, taças para o champagne do brinde e a uníssona contagem regressiva. Queima de fogos, lista de intenções.
Falando em intenções, quero então fazer uma lista de desejos para o ano que se aprochega. E ao contrário do que se acredita, desejos a gente revela, sim, para que os outros desejem conosco olhando para a mesma estrela. Assim podemos dar vida às palavras de Dom Helder, aí em cima na epígrafe.
Então, que em 2009 a meta primeira de todas as pessoas seja atingida. Ticar mais um xiszinho nas tarefas a realizar na vida é sempre gratificante. Muitas vezes, dessa meta dependem outras metas, metas-corolárias – corolária é uma palavra difícil, mas linda. A minha primeirona para o ano que vem é ter meu filho com saúde e tranqüilidade.

Que em 2009 as pessoas amem mais e sofram menos por causa de outras. Que entendam que há sempre um caminho para felicidade, mesmo que o que as leve para lá não seja aquele trajeto tão cuidadosamente planejado. Que descubram, no novo e por vezes improvisado caminho, o riacho límpido que perderiam se não houvesse o desvio feito a contragosto. E que não destruam o caminho caminhado, pois foi ele que lhes trouxe até aqui.

Que em 2009 possamos dar continuidade ao trabalho que estamos desenvolvendo no nosso espaço profssional. Há uma sede desértica e uma fome de mudança africana por mudanças qualitativas na sociedade. Que possamos nos regozijar com uma esperada justiça social – regozijar também é uma palavra linda.

Que em 2009 quem se perdeu se ache. Quem se achar, se curta. Quem se curtir, que sonhe. Que use como barômetro da vida não as pequeninas coisas do dia-a-dia, as más e mesquinhas, mas as pequeninas coisas do dia-a-dia, as boas e agradáveis. Que, assim, nosso bem-querer e nossa disposição em viver nossa vida, única e nossa, beijem a boca e despertem do sono a Pollyana bela e adormecida que existe em cada um de nós. Robertocarlianamente, é preciso saber viver. Sonhar não custa nada, frase trivial e tão verdadeira. É da trivialidade que surgem os geniais insights. Devemos olhar com cuidado o comum que nos cerca, pois ele guarda surpresas inimagináveis e mudanças de vida impensáveis.

Que em 2009 as inevitáveis lágrimas que rolarem em nossas faces sirvam para enxágüe da alma. Que sirvam para limpar os olhos dos travos de amargura que porventura tenham tocado a boca de nosso espírito. Que as lágrimas vertidas sirvam para regar o verde do jardim de nossa alma, por vezes cinzentas. A dor é o maior aprendizado do ser humano. Sempre haverá algo a doer. Quanto mais cedo reagimos e aprendemos a domesticá-la, mais cedo creio que seremos mais serenos e lépidos diante das drummondianas pedras no meio do caminho.

Que em 2009 novas pessoas especiais surjam em nossas vidas. A cada ano, acredito, um bom punhado delas é colocado a dedo no traçado de nossa existência com alguma missão que só muito mais tarde descobriremos. Ou não. Pessoas que simples e profundamente nos fazem bem. Pessoas cujo simples cruzar de olhar já dá um tom especial à melodia do nosso dia até então desafinado. Pessoas que fazem o coração jovializar surpreso e agradado ao vê-las inesperadamente e que levam esse mesmo coração a esperar ansioso pelo próximo encontro. Pessoas que atrasam nossas programações mais mundanas por conta de suas inestimáveis companhias, quase divinas. Pessoas especiais a quem nossa linguagem chama autonomamente de amigas, independente do tempo de convívio. Pessoas como essa em quem você está pensando agora.
Que em 2009 as velhas mágoas se aposentem e vão curtir a vida em qualquer outro lugar. Que abram vaga nova no coração, onde nunca deveriam ter ocupado assento. Que em seus lugares, alegrias joviais e cheias de gás, recém-nascidas ou formadas, assumam e sintam o prazer em servir doses sem medida de paciência, tolerância e carinho em relação aos que nos circundam.
Que em 2009 aquele velho amigo que se pôs distante ponha-se achegado. Que as gargalhadas e risadagens compartilhadas e registradas no amarelado álbum do tempo, e suspensas pelos rumos da vida, retomem seu viço e seu som estridente de então, quando lágrimas corriam soltas lavando a alma de felicidade. Uma amizade resgatada é como uma nota de cinqüenta achada no bolso daquela bermuda que há muito a gente não usa: alegra e permite a retomada de planos. E que também aquele amigo que se porá distante no ano que entra não se desachegue. Que vá, mas fique, deixando sua presença fraterna no lugar de sua presença física. Deixando seu cheiro em nossa alma para a lembrança eterna.

Que em 2009 aquele velho projeto secreto tenha sua vez. Ele sempre esperou quietinho por ela. Chegou a hora. Desengavete-o!
Que em 2009 seja o Ano Internacional do Reencontro. Reencontro consigo, com seus amigos, com sua família. Reencontro com aqueles de quem nos desencontramos por causa da teia dos acontecimentos cotidianos. Reencontro com aqueles de quem nos perdemos no tumulto da multidão dos fatos. Reencontro com nossos valores mais pueris de solidariedade, afetividade e humildade. Reencontro com Deus, grande maestro do show da vida e de vida que nos cerca.
Que 2009 seja o ano da virada. Seja lá qual for essa virada. Desde que seja para melhor. Que seja o ano do recomeço, seja lá o que for que precise ser recomeçado. Rupturas virão, ao certo, mas novos laços imediatamente surgirão para não deixar o entremeado tecido da vida roto e maltrapilho. A roupa que veste a vida espelha a aura que reveste a alma. E vice-versa.
Que 2009 seja o ano da coragem. Da coragem de rever autocriticamente nossas pisadas de bola e nossas mancadas, sem punições ou autoflagelos. Quem não dá testadas nessa vida de quando em vez? Que sejam momentos de introspecção positiva. Momentos de rever nossos planos, conceitos e preconceitos daninhos. Coragem para, tudo revisto, assumir posturas claras. Coragem para não esquecer que ninguém é eterno e que a vida é efêmera como uma florzinha no campo. Exatamente por isso não vale a pena ficar ruminando em cima daquela questiúncula miudinha e pequena. Coragem para dizer diretamente o que tem a ser dito, mas de forma tranqüila, serena e verdadeira, como só os corajosos sabem fazer. Os fracos de alma sentem a necessidade de dizer por terceiros, de mandar recados. Aliás, não é necessidade: é falta de opção. É a única forma que sabem fazê-lo. Então, que aprendam outras formas em 2009.

Que em 2009 aquele dia anual de cabeça quente sirva para aquecer o coração. Explodir para quê? Que o calor da cabeça gere energia termoelétrica para processar as perguntas sem respostas, refletir a vida, refletir as tomadas de rumos, refletir os novos momentos e sua significação. Refletir a reflexão. Dormir antes de decidir.

Que 2009 seja um ano de tolerância. Que se perceba que as pessoas são diferentes e que nessa diferença reside a beleza de uma relação. Mapear o amor que sentimos e que funda nossa relação com os outros é uma das tarefas mais primordiais e gostosas de qualquer relação. É bom demais construir nossa história, riscar nossos corações nas árvores dos fatos, nas calçadas da mente. E lembrar, sem dramas, que cada um às vezes precisa de um minuto sozinho no seu cantinho. Não é nem preciso verbalizar essa necessidade para o outro. O amor proficiente no amor aprende a ler silêncios, textualizar olhares, significar sorrisos e gestos. Enfim, compreende a necessidade de transcender as palavras enunciadas. O não-dito grita o que as palavras calam.

Que em 2009 aquele velho conselho de Victor Hugo prevaleça: tenha dinheiro, mas não esqueça quem manda em quem. Dinheiro é conseqüência e não meta. Pense nisso, mas não se desvalorize enquanto profissional. A felicidade no trabalho é elemento importante para o equilíbrio da felicidade global, mesmo que por vezes ela pareça encurralada por desânimos e sensações de imobilidade. Os ritmos das pessoas para a cadência da vida são diferentes: alguns sambam, outros valsam. Alguns bregam no Calypso, outros viajam na mais deliciosa MPB. Ninguém muda tudo, mas alguma coisa se muda. Concentre-se nesse alguma coisa e toque a canoa que o chibé lhe espera.

Que em 2009 as pessoas façam algo que nunca fizeram. Ou porque não gostam ou porque não tiveram chance. Que descubram nessas coisas diferentes um prazer diferente. Que tomem Guaraná Baré, comam tucumã no pão, bife com ketchup. Que criem coragem para provar Yaksoba e beringela. Que assistam filmes do Almodóvar , experimentem uma bala de araçá-boi. Que se desapoquentem ouvindo Jorge Aragão ou Carpenters. Que assistam ao Domingão do Faustão e se deliciem com aquelas velhas videocassetadas de dez anos atrás. Que tome um delicioso banho de chuva a dois ao som de “Que maravilha”, cantada pelo Toquinho. Que leia um livro à cama, trocando calorzinho pelos pés que se chamegam por baixo do edredom. Que comam o doce abio e riam juntos do beijo de boca grudenta que a fruta proporciona. Que riam dos outros e, acima de tudo, riam de si. Aprender a ri de si é fundamental.

Que em 2009 a saudade venha e venha forte. Só sente saudade quem viveu intensamente. Que haja vida intensa no ano que rebenta. Que essa intensidade não signifique assoberbamento, mas compactação, viçosidade e viscosidade ao vinho da celebração aos fatos. Que brindemos à vida sem ficar de porre, mas apenas levemente felizes.

Que 2009, enfim, seja seu ano. Ao desejar um Natal maravilhoso, peço a você que me lê para não esquecer algo fundamental: de dar os parabéns ao aniversariante.

Meu último mas nem por isso menos importante desejo é o de que em 2009 minha lista de desejos tenha apenas uma frase: um 2010 igual a 2009: feliz. Aliás, feliz é uma palavra muito linda.

Sérgio Freire

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quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

Música na quinta à noite

No Media Player, "Meu bem querer", Djavan. Sem comentários.

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Vamos pecar em 2009!


[Um texto de 2007, desejando muitos pecados em 2008, adaptado para 2009...]


Nesta época, nossas caixas-postais se enchem de reflexões. Particularmente, espero que cada um de nós exercite seu lado pecador em 2009. Um mundo novo sempre é possível se capricharmos nos pecados capitais.

Que a ira acometa o coração de todos nós. Que nos iremos contra as injustiças, contra o terror, contra as formas de fazer o mal. Que a cólera nos tome em acessos para que, com os dons a nós dados gratuitamente pelo bom Deus, possamos fazer diferença na defesa dos fracos e humildes. Que o furor de cidadania guie nossas ações contra um mundo indignamente famélico num planeta farto.

Que em 2009 tenhamos gula. Gula de amores, de carinhos, de solidariedade. Que sejamos vorazes em nosso consumo de bom humor. Glutões de paz, que possamos rir soltos juntos às crianças, ajudar a um desconhecido, abrir a porta para alguém, devolver uma carteira forrada de grana ao dono. Que consumamos mais amizades, de todas as cores e sabores.

No ano que nasce, que brote em cada de um nós uma luxúria desenfreada. Por que não se esbaldar sem rédeas de vez em quando? Por que não deixar as crianças pisarem na areia, comerem uma barra de chocolate? Que tenhamos um tempo para pequenos prazeres com nossos irmãos. Que resgatemos o gosto do sorvete de domingo. Que o viço retorne à nossa vida, se por acaso tivermos permitido que ela tenha desbotado.

Um ano novo começa. Que tenhamos muita inveja nos próximos 365 dias. Inveja de quem faz trabalho voluntário, de quem vive pensando no outro, de quem cuida de si, de quem cresce sem derrubar os outros. Invejemos a pureza e a inocência das crianças. Permitamo-nos cobiçar a mulher do próximo para querê-la bem e para aproximar mais o próximo da gente. Muita inveja da capacidade de catalisar o bem para todos nós em 2009.

Que a virada do ano nos traga momentos de muita preguiça. Preguiça na hora de fazer atos ou praticar omissões que só façam mal, na hora de corromper o guarda, de praguejar, de cometer o menor dos delitos. Que cada vez que formos convocados para o mal em suas várias formas possamos usar nossa mandriice como álibi. E se o malvado que lhe convidou lhe perguntar o que que é isso, mande-o pastar.

2009 é um bom ano para ser avaro. Sejamos econômicos com nosso mau-humor e com nossos momentos nervosinhos. Sejamos morrinha quando as situações conspirarem para sermos mesquinhos: que nessa hora pensemos somente em nós. Pensemos que não vale a pena fazer nada contra os outros. Pensemos em suas coisas em 2009: na nossa família, nos nossos filhos, nos nossos amigos, no nosso mundo. Sejamos sovinas de fofocas, de maledicências, de derrubações.

Sejamos, por fim, bastante orgulhosos no ano novo. Tenhamos orgulho de nossos aprendizados, de tal forma que possam servir de exemplo para os que vêm depois de nós. Sejamos presunçosos quanto à nossa capacidade de fazer um mundo melhor. E não nos acanhemos em sermos arrogantes com os que não acreditarem em nós quanto a isso. Assoberbemo-nos de boas intenções para o raiar do primeiro dia do ano.

“Pecar” significa “errar o alvo”. Pois que erremos o alvo. Desejo que pequemos muito e com fervor. E sejamos felizes. É o que lhe desejo para 2009: doces pecados capitais para uma vida melhor e mais feliz. E quem não quer ser feliz que atire a primeira pedra.

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quarta-feira, 24 de dezembro de 2008

Acabei d ler: "Para Francisco", de Cristiana Guerra.


Comprei o livro por acaso na Siciliano de Jundiaí. Às vezes invoco com um livro e compro. Em dois dias, li tudo. A cada página ficava embargado pela doce e verdadeira escrita de Cristiana. Minha melhor leitura de 2008, junto com "O Código da Vida", de Saulo Ramos.

Para o filho que não conheceu pessoalmente o pai, Cristiana escreve. Começou em um blog, o Para Franscisco. Agora, chega às prateleiras de livrarias. A história da publicitária mineira parece filme: quando estava grávida de sete meses, perdeu o namorado --o coração dele parou de repente. No meio do caminho, ficaram lembranças, expectativas e saudades. Para agüentar a dor da perda do amor da sua vida e entender a alegria pela chegada do outro amor da sua vida, começou a escrever.

O blog Para Francisco nasceu em julho de 2007, dois anos após o início do namoro de Cris e Gui, um ano depois da descoberta da gravidez, seis meses depois da morte dele e quatro meses após o nascimento do bebê. Os textos, escritos em forma de diário, logo ganharam repercussão --o blog recebe cerca de 2.000 visitas por dia.

"Eu queria falar para o Francisco, mas também queria falar comigo mesma. Queria falar sobre o pai dele, sobre mim, sobre o que eu tinha vivido e sobre o que eu sentia. Eu já tinha perdido mãe e pai e sabia que, por uma questão de sobrevivência, as lembranças frescas do Gui iriam me fugir. Achei injusto, com o Francisco e comigo, que as lembranças se perdessem com o tempo, e o blog se tornou um compromisso diário, constante", afirmou Cristiana em entrevista à Folha de São Paulo.

As 192 páginas do livro são compostas principalmente de textos do blog. Há, também, e-mails trocados entre o casal, mais de 20 textos inéditos --esboços que não tinham virado post-- e uma carta para Guilherme, "escrita de uma vez só".

Um belo livro que recomendo de presente àqueles que querem repensar a palavra família. Virei frequentador assíduo do blog.

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terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Música na terça à noite...

No Media Player: Ain't no sunshine when she's gone, Lighthouse Family, título auto-explicativo; Cálice, Chico Buarque e Milton Nascimento. Eu tinha uns doze anos; Há tempos, Legião Urbana, "disciplina é liberdade". É mesmo; Comfortably numb, Pink Floyd, roubaram meu CD do The Wall, mas essa música me faz ficar confortavelmente dormente; Bandolins, Oswaldo Montenegro. Fez sucesso no ano em que fui campeão amazonense de futebol de mesa. Finalizo com Na sombra de uma árvore, Hyldon. Um convite sempre em aberto.

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segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Dois graus à esquerda


Um formigueiro de pessoas correndo para comprar presentes para os seus, estacionamentos apinhados, lojas cheias de gente e de filas. Vendedores no seu limite, mães zanzando pressurosas, pais as seguindo com sacos na mão, literal e metaforicamente. Madrinhas disputando a última Miracle Baby a tapa, mulheres pequenas carregando nas costas motos elétricas que não caberão na mala do carro. É ou não é um retrato do Natal?

Como passei dos quarenta, já aprendi que todas as coisas têm mais de um sentido sempre. Basta se deslocar dois graus à esquerda e o ponto de vista muda a vista do ponto. Como eu me desloquei e pude ver o retrato de Natal de outro ângulo? O presente que minha filha Clara, de dois anos e meio, vem pedindo desde que os primeiros acordes de Jingles Bells começaram a tocar acabou em Campinas, onde estou para as festas com a família da Bi. Liga daqui, liga para lá, espera no telefone. Nada. Mil lojas de brinquedos e nenhuma imaginou que o caixa de supermercado das Superpoderosas iria bombar. Moral da história: viajei 100 km ida-e-volta até Jundiaí para cumprir o que Papai Noel prometera. Você, leitor, não tem idéia do prazer que eu tive ao por as mãos na caixa e ver aquelas meninas olhudinhas rindo para mim. Eu me senti criança de novo. A vendedora perguntou se era para mim.

Comprar presente para ver a alegria do filho, da mãe, do pai ou do irmão é motivação mais do que suficiente. Mas é isso que deve mover a compra: a alegria pelo e do outro. O mundo tem de ficar melhor no Natal. Não vale fazer igual a uma mulher que xingou a moça do caixa da loja de brinquedos porque ela, em vez de lançar a compra no crédito, lançou no débito. A mocinha ficou com olhos cheios d’água. Esse presente não vale. Ele serviu para humilhar,diminuir, deixar o mundo mais amargo. Não rola fazer as coisas se não forem motivadas pelo amor, pelo afeto. Tudo bem, leitor, pode dizer que estou meloso porque estou mesmo. Natal me deixa assim. Luzes piscantes e músicas de harpas servem para me lembrar que Natal é nascimento e que, portanto, é época de fazer nascer um outro eu, melhor e que alegre o mundo cinza.

Proponho o exercício da troca neste Natal. Troquemos presentes como nossas crianças. Vamos dar a elas Amazing Anandas, Pop Star Melodies, motos gigantes, bonecos do Ben 10 ou Wii’s. O que eles pedirem. E recebamos delas sua forma mais feliz de ver o mundo, sua confiança imediata no outro, seus sorrisos frouxos nas situações mais esdrúxulas, a sua capacidade de rir do mundo e, mais importante, de rir de si.

Aristóteles escreveu já faz um tempão: “Ninguém é dono da sua felicidade. Por isso, não entregue sua alegria, sua paz, sua vida nas mãos de ninguém, absolutamente ninguém. Somos livres, não pertencemos a ninguém e não podemos querer ser donos dos desejos, da vontade ou dos sonhos de quem quer que seja”. Só dos nossos, eu completo. Com perdão da aliteração, inove em 2009. Olhe-se de outro ângulo e perceba o que você nunca viu no espelho. Seja mais criança. O Natal é uma época excelente para isso.

Em chinês, o mesmo ideograma significa “crise” e “oportunidade”. O sentido sempre pode ser outro. Seja o sentido dos fatos, da vida, do Natal, de nós mesmos. Basta se deslocar dois graus à esquerda. Feliz Natal.

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domingo, 21 de dezembro de 2008

Acabei de ler: : "Outliers, Fora de Série", de Malcolm Gladwell


O que torna algumas pessoas capazes de atingir um sucesso tão extraordinário e peculiar a ponto de serem chamadas de "fora de série"?

Costumamos acreditar que trajetórias excepcionais, como a dos gênios que revolucionam o mundo dos negócios, das artes, das ciências e dos esportes, devem-se unicamente ao talento. Mas neste livro o autor tenta mostrar que o universo das personalidades brilhantes esconde uma lógica muito mais fascinante e complexa do que aparenta. Baseando-se na história de celebridades como Bill Gates, os Beatles e Mozart, Malcolm Gladwell mostra que ninguém se faz sozinho. Todos os que se destacam por uma atuação fenomenal são, invariavelmente, pessoas que se beneficiaram de oportunidades incríveis, vantagens ocultas e heranças culturais. Tiveram a chance de aprender, trabalhar duro e interagir com o mundo de uma forma singular. Esses são os indivíduos fora de série - os outliers.

Para Gladwell, mais importante do que entender como são essas pessoas é saber qual é sua cultura, a época em que nasceram, quem são seus amigos, sua família e o local de origem de seus antepassados, pois tudo isso exerce um impacto fundamental no padrão de qualidade das realizações humanas. E ele menciona a história de sua própria família como exemplo. Além disso, para se alcançar o nível de excelência em qualquer atividade são necessárias nada menos do que 10 mil horas de prática - o equivalente a três horas por dia (ou 20 horas por semana) de treinamento durante 10 anos. Aqui você saberá também de que maneira os legados culturais explicam questões interessantes, como o domínio que os asiáticos têm da matemática e o fato de o número de acidentes aéreos ser mais alto nos países onde as pessoas se encontram a uma distância muito grande do poder.

Gostei, ainda que às vezes seja excessivamente detalhista nos exemplos. Mas o argumento é interessante. Recomendo. Vale uma conversa na cantina da UFAM.

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sábado, 20 de dezembro de 2008

Música num sábado à noite...

No Media Player: Cheek to cheek, Ella Fitzgerald e Louis Armstrong, clássica; Tema de Amor, Marisa Monte, suave como a voz de Marisa; As curvas da estrada de Santos, Paula Toller, música de Roberto na voz dos outros é mais bonita; Nossa canção, Vanessa da Mata, idem; Eu preciso te esquecer, Claudia Telles, música-balada das antigas; If you leave me now, Ive Mendes, bela roupagem para o clássico do Chicago e Velha infância, Tribalistas, velhas lembranças de tempos idos.

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Uma frase num sábado de dezembro

"O amor é um lugar estranho"
Lost in Translation

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sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Poesia numa sexta à noite

"Um Dia de Chuva. Um dia de chuva é tão belo como um dia de sol.
Ambos existem; cada um como é."
Fernando Pessoa

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Complicação

Tem gente que é assim, complica sempre mais...

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Viagem

A viagem de avião sempre é chata para mim. Quando estou sozinho, eu durmo ou leio. Mas com as pequenas é preciso ficar alerta em tempo integral. Nosso vôo atrasou uma hora e meia. Mas foi tranqüilo. Chegamos em São Paulo às 10 da noite e em Campinas um pouco mais de meia-noite. A Ana Clara, sentindo a diferença de lugar e de fuso, foi dormir às cinco da manhã. Quero ver se nesses vinte dias de férias curto as meninas mais do que consigo em tempos de trabalho. Toda máquina tem de parar para a manutenção. O ser humano inclusive. Hora da manutenção do trabalho e de funcionar a todo vapor com a família. Minha memória nega a me dizer quando foi a última vez que dormi até onze da manhã.

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terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Administrar a coisa pública

Publicado no jornal "Em Tempo", em 18.12.2008.

Sou uma pessoa que crê que sempre se deve aprender com as experiências. Não vejo sentido em ser diferente. Somos produtos do que temos sido e, portanto, estamos em contínuo processo de transformação pessoal nos vários âmbitos.

Durante três anos fui subsecretário de educação do município de Manaus. Foi um período de aprendizado nos aspectos administrativo, político, pessoal e profissional. Aprender é mudar comportamento e, nesse sentido, aprendi bastante.

Aprendi que administrar é decidir. Para a decisão, quanto mais ouvir as pessoas ligadas às questões envolvidas, melhor. Mais subsídios se tem para tomar a decisão. Mas aprendi também que ouvir as pessoas não significa cair num democratismo que requer que se vote toda e qualquer decisão. Isso é tão ruim quanto decidir sem ouvir ninguém. Quem está num lugar de gestor tem de chamar para si as responsabilidades do cargo. Não há vácuo no poder, diz o truísmo. Se não se ocupa o lugar de poder legitimado alguém vem e ocupa. Aqui se encontra uma das questões fundamentais: decidir é optar e quando se opta contempla-se alguém e pretere-se alguém. Conseqüência: ninguém administra sem decidir e ninguém decide sem descontentar. Os descontentes, por sua vez, vão gerar e fazer circular versões, muitas vezes convenientes, que vão parafrasear a idéia de que o gestor é autoritário, uma vez que sua decisão não os contemplou. Caso o fizesse, claro, seria vista como democrática.

Qualquer escolha dentre um leque de opções gerará descontentamento. Ao gestor cabe escolher de acordo com o regramento legal e suas convicções e agüentar a reação. Ela sempre vem. Não há, repito, decisões sem reações. Um administrador deve estar ciente de que suas decisões vão gerar memória, positiva ou negativa, sob sua passagem pela administração. Críticas são inerentes a quem decide.

Falei em seguir o regramento legal. Administrar e decidir nas possibilidades da lei, nunca fora dela. “Legalista”, já acusarão os preteridos. Junto com as responsabilidades políticas de qualquer decisão – aquilo que ela altera na questão social -, vem a responsabilidade legal sobre ela. Na época em que discutíamos o Plano de Cargos dos professores, lembro que o Sindicato exigia a inclusão de merendeiras e vigias das escolas no Plano, algo proibido por Lei. Plano de Cargos do Magistério só pode incluir professores e pedagogos. A vontade política não era contemplada pela legislação. Caso acatássemos a proposta do Sindicato, estaríamos feriando a lei como gestores e pelo não cumprimento da mesma seríamos responsabilizados. Explicar para o Sindicato, no entanto, não foi tarefa fácil.

Resumindo: administrar é decidir. Decidir contemplando as demandas políticas que contemplem a maioria, sustentada pela legislação, e sabendo que a decisão gerará reações e que as reações fazem parte. Quem tem problemas em ouvir, quem não consegue decidir, quem não pensa no ganho coletivo – ainda que isso possa descontentar a uma minoria – quem acredita que as leis são detalhes e quem não sabe lidar com o contraditório no nível do argumento, da divergência com honestidade intelectual, não pode administrar. Aliás, pode. Com danos e riscos. A Ufam vai escolher um novo reitor. Essa reflexão vai nesse contexto.

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segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Linguagens do português brasileiro

Esse vídeo é muito legal. Mostra a diversidade dos portuguêses brasileiros.

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Frase do dia

"Amigo de verdade não é aquele que separa uma briga; É o que chega dando voadora." Chuck Norris.

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domingo, 14 de dezembro de 2008

Música na tarde de domingo...

No Media Player: Janta, de Marcelo Camelo e Mallu Magalhães. Ficou muito gostosa de ouvir; na seqüência, Elephant Gun, Beirut, da trilha de Capitu; When you are gone e Complicated, Avril Lavigne. Comecei a gostar do som da Avril recentemente, ouvindo no rádio do carro.

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sábado, 13 de dezembro de 2008

Clara vê o rio escuro...












Clara, à margem do Rio Negro. Foto: Sérgio Freire


O rio corre, negro, desde sempre. O barco pára, pausa da labuta. A menina Clara pensa sobre o rio escuro: "para onde ele corre?". O pai, fotógrafo, suspira: no rio da vida, minha menina um dia seguirá seu curso. É o caminho. Desde sempre. E sua imagem criança, carente de mim, registrou-se. Na foto, na retina, na memória, no coração. Assim deve ter pensado Deus ao olhar o Rio Negro quando o fez.


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Longe Perto

A etimologia nem sempre é o único lugar para começar, mas é um lugar. Rezam os registros dos deuses da lingüística que a palavra “irmão” vem do latim “germen", semente. Irmão seria, portanto, aquele vem da mesma semente. Quando falamos em “semente”, que também é uma palavra latina, nos referimos à origem. Qualquer pessoa mais sensível para as belezas do mundo sabe que a semente aqui referida não se limita à origem biológica, mas a origem enquanto lugar de partida, o ninho.

Irmão para mim é aquele que sai do mesmo lugar, simbolicamente falando. Aquele que, mesmo divergindo nos caminhos, converge em princípios e em bem-querer não só para os conterrâneos de origem, mas todos os bons do mundo. Irmão chora junto e enxuga as lágrimas. Estoura a champagne e faz o churrasco da vitória. Irmão segreda segredos secretos. Irmão é cúmplice. Na fala. No silêncio. Na arte. Irmão sente a presença da ausência do outro.

Fico pensando se fosse filho único. Não ter irmão para mim é um non-sense, um não sentido. Com quem aprender a dividir? De quem sonegar no egoísmo infantil? Na cabeça de quem bater o martelo de madeira? A quem recorrer nas ausências da alma? Ser irmão é falar, mesmo no silêncio. É estar presente, mesmo na distância. É compartilhar as coisas boas do mundo e puxar da lama das ruins, quando atolamos. Ser irmão é ter códigos secretos, impenetráveis. Uma linguagem criada pela história de vida que não é compreendida por nenhum forasteiro, por mais atento que seja.

Irmão protege. Ou sendo escudo, para receber em si as pedras da existência, ou abrindo a porta, para que nosso aprendizado se dê calejando os pés em caminhos não tão macios, mas necessários no crescimento do ser. Ser irmão é dizer o que é preciso, com o carinho e a verdade dos que amam. Ser irmão é ouvir o que é necessário: ninguém que nos ama nos diria algo se não fosse exclusivamente para nos ver bem. A vida nos põe junto dos irmãos por um motivo. Ela os escolhe para nós. O segredo da felicidade é compreender as razões secretas desse quebra-cabeça. Descobrir o que aprender com cada irmão.

Segundo os dicionários, há os irmãos de leite: indivíduos amamentados pela mesma mulher que é mãe de um e ama do outro; os irmãos uterinos: irmãos filhos da mesma mãe e de pais diferentes; os irmãos consangüíneos: irmãos filhos do mesmo pai e de mães diferentes; os irmãos germanos: irmãos filhos do mesmo pai e da mesma mãe; os irmãos adotivos, que Deus escolhe a dedo, e os irmãos siameses: biologicamente grudados. Irmão, para mim, resume-se ao siamesismo de alma. É a alma grudada que faz com que, nas nossas diferenças, sintamos a presença dos irmãos em nós, na nossa vida, na nossa existência.

Hoje é aniversário de um dos meus quatro irmãos. Pensei nele e no quanto dele há em mim. Eu seria menos eu se não o tivesse tido. Caminhos bifurcam e se encontram sempre lá na frente. O poeta T.S. Eliot diz: “E, ao final de nossas longas explorações, chegamos ao lugar de onde partimos e o conheceremos então pela primeira vez”. O poeta Nilson Chaves reza na música que dá título a este texto: “Toda vez que eu viajar é sinal que estou aqui e quando estiver por lá quer dizer: nunca parti. A vontade de voltar não impede a de seguir. E, por onde quer que eu vá, estarei vivendo em ti”. Vale para lugares. Vale para pessoas. Te amo, mano.

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Poesia

Sou um ser da prosa, não da poesia. Ainda que por vezes me arrisque num soneto, como esse abaixo, em que o eu-lírico reclama das paixões que passam batidas:

RAQUITISMO

Quero viver paixões intensamente
Quero morrer de amores se possível
Quero entregar meu corpo, minha mente
É imperioso, é justo e é crível

Quero dormir de tanto amar de dia
Quero acordar pra tanto amar de noite
Quero um amor que chegue e que me açoite
E que me ache quando eu me perdia

Não tenho como viver tua paixão
Não tenho como eu tomar tua mão
Não vou ser eu a te servir a ceia

Sou responsável pelo que restou
Mas responsável sei que eu não sou
Do raquitismo da paixão alheia...

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Fotografia

Por ser traumatizado pela falta de fotos de minha infância, comprei uma Nikon D-50 quando minha primeira filha, Clara, nasceu. Desde então, sou paparazzi de minhas filhas. Aprendi a gostar de fotografia, um hobby caro, mas muito legal. Recomendo o curso em CD da National Geographic para os que quiserem começar na coisa. Navegando por aí, cheguei ao site do Tommy Ga-Ken Wan, fotógrafo baseado em Glasgow. Esse Tommy tem cada foto que um obra-de-arte. Um dia, quem sabe, em chego lá... Confira no seu site.

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sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

9a. Feira do Livro de Ribeirão Preto


Fui convidado para estar na 9a. Feira do Livro de Ribeirão Preto, no ano que vem. A Feira de 2009 homenageia o Amazonas. Estive na 8a e foi muito boa. A assessoria de imprensa da Feira me pediu uma foto para divulgação. Mandei essa aqui post. Ficou legal. A foto é da Bia. Por algum tempo vai ser minha foto oficial de divulgação. Já deu para notar que já estou usando no perfil, certo? Até parece de escritor mesmo...

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Música na sexta à noite...

No media player rola a melancólica e bonita E não vou deixar você tão só, Liah. Na seqüência: Don't worry, be happy, Mart'Nália; Broken Hallelujah, Rufus Weinwright; Complicated, Avril Lavigne.

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Discurso: o sentido acha suas formas.



O sentido acha suas formas. Essa história da história do Brasil é fenomenal. Do blog do JB.

13/12: 1968 - É decretado o Ato Institucional nº5

Tempo negro. Temperatura sufocante. O ar está irrespirável.
O país está sendo varrido por fortes ventos.
Máx.: 38º em Brasília. Mín.: 5º, nas Laranjeiras.

Jornal do Brasil

Primeira página do Jornal do Brasil: Sábado, 14 de dezembro de 1968.

Na noite da sexta-feira, 13, com o objetivo de administrar a crise política, o Governo do General Arthur da Costa e Silva baixou o Ato Institucional nº 5, e com base nele, o Ato Institucional Complementar nº 38, que decretou o recesso do Congresso Nacional, por prazo indefinido.

Entre as resoluções do AI-5, suspendia-se os direitos políticos, e proibia-se atividades e manifestações sobre assuntos dessa natureza, condicionando a infração a severas penalidades, desde a liberdade vigiada ao domicílio determinado. Para garantir a ordem, os quartéis mantiveram-se em rigoroso regime de prontidão, e mobilizaram-se integralmente as Polícias Federal, Militar, Civil e a Guarda Civil.


O ano de 1968 foi de grandes protestos contra o regime militar. No início do ano, artistas de teatro mobilizaram-se contra a censura. Em março, uma manifestação universitária no restaurante Calabouço terminou na morte do estudante Edson Luís. Greves e passeatas eclodiram em todo o país, culminando com a passeata dos 100 mil, em junho, no Rio.

Atentados, expropriações, paralisações prosseguiram no segundo semestre em diversas partes do país. Um dos momentos mais tensos foi o discurso do deputado Márcio Moreira Alves, no início de setembro, conclamando a população a boicotar os eventos programados para o Dia da Independência. A declaração elevou ao máximo o descontentamento dos militares, que pediram a cassação do deputado. O pedido foi rejeitado pelo Congresso (216 votos contra, 141 a favor e 24 abstenções) na véspera da instauração do AI-5.

Anos de chumbo e a censura
Nos dez anos de vigência do mais cruel dos Atos Institucionais, sua fúria consternou a sociedade brasileira e internacional. Impondo-se como um instrumento de intolerância aos contestadores do regime militar, promoveu arbitrariamente repressão e intervenção, cassação, suspensão dos direitos, prisão preventiva, demissões perseguições e até confisco de bens.

A censura federal, recrudescida, atuou veentemente na interdição de mais de 500 filmes, 400 peças de teatro, 200 livros, e milhares de músicas. Tudo sob a égide da segurança nacional.

- * - *

Roberto Quintaes era um dos copidesques do JB presentes naquela noite. É ele quem conta a história no blog do Pedro Doria.

O Editor-Chefe Alberto Dines, por volta da meia-noite, procurava soluções, com o Chefe de Redação Carlos Lemos, para as muitas intervenções dos militares que haviam ‘ocupado’ o JB naquela noite.

O editorial foi substituído por uma foto, vertical, em que o campeão mundial de judô era derrubado pelo seu filho, brincadeira doméstica. Muitas outras fotos com legendas ambíguas substituíram textos vetados.

Num certo instante, Dines me pediu que recriasse a previsão do tempo, usando o 5 do Ato Institucional e o 37 do Ato Complementar assinados naquele 13 Dezembro.

E saiu então a seguinte ‘previsão’:

Tempo negro. Temperatura sufocante. O país está sendo varrido por fortes ventos. Mínima – 5 graus, no Palácio Laranjeiras. Máxima = 37, em Brasília.

A primeira página foi vista e revista pelos militares ainda com a previsão do Serviço de Meteorologia. A ‘previsão0′ de que aqui se fala foi incluída na capa do JB depois de todos os vetos dos militares terem sido executados. A atenção deles não mais pousou, ao final, sobre a previsão do tempo, … e fez-se história.



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Contardo Calligaris

Contardo Calligaris, na Folha de São Paulo, ontem:

Zoé e o demônio do meio-dia


O demônio do meio-dia é o tédio moderno, efeito de um mundo com poucos mistérios

DESDE PEQUENA, Zoé, 9 anos, adora filmes e histórias de terror. Seus pedidos espantam a moça da locadora de DVDs, que, provavelmente, duvida da sanidade mental dos pais.
De fato, Zoé assiste com prazer a filmes que, às vezes, deixam insones seu irmão mais velho, suas baby-sitters e mesmo sua mãe. Talvez Zoé seja cinéfila a ponto de assistir aos ditos filmes com o distanciamento de um crítico dos "Cahiers du Cinéma". Ela desmontaria os "truques" destinados a produzir espanto nos espectadores e, com isso, os filmes lhe proporcionariam uma experiência parecida com a de um bom exorcista: ela venceria o mal desvendando seus estratagemas.
Mas a paixão de Zoé pelas histórias de terror tem outra explicação possível, que me apareceu quando Zoé quis que sua festa de aniversário fosse o cenário de um filme.
Com a ajuda de um cineasta amigo da família, Zoé e seus convidados foram co-autores e protagonistas de um curta que, claro, é a história do aniversário de uma menina, durante o qual um monstro diabólico e sedento de sangue etc.
Graças ao filme (que, aliás, é bem legal) pensei o seguinte: talvez Zoé queira sobretudo convencer-se de que sempre, mesmo no dia ensolarado de seu aniversário, há zonas de sombra, por onde andam seres repugnantes e perigosos. Alguém perguntará: "Mas por que ela gostaria de pensar assim?"
Pois é, eu acho que essa idéia é, para qualquer um, uma fonte de alívio. Explico por quê.
O Salmo 90 (na numeração Clementina) expressa a esperança de que Deus nos guarde tanto das abominações "que circulam pelas trevas" quanto "do demônio do meio-dia". Sobre o tal demônio do meio-dia muito foi escrito e dito: diferente dos diabos que se escondem nos cantos escuros, o que será esse malefício que nos espreita justamente quando o sol está no zênite e o mundo nos aparece sem sombras?
Uma leitura moderna diz que o demônio do meio-dia não é um bicho do inferno, mas é um sofrimento insidioso, específico de uma época em que faltam cantos escuros.
Ele é nossa própria tristeza, a depressão e o tédio produzidos por um mundo com poucas sombras e poucos mistérios.
Em outras palavras, as luzes da razão e da ciência acabaram com aquele sentido que só uma transcendência (divina ou diabólica, benéfica ou maléfica, tanto faz) podia conferir à vida. Por excesso de luz, em suma, o mundo perdeu seus horrores, mas também seu encanto; com isso, é preciso que Deus nos proteja do demônio do meio-dia, ou seja, do tédio e da tristeza.
Ao inventar cantos escuros e ao povoá-los de "troços" inquietantes, Zoé está se protegendo contra o demônio do meio-dia -com toda razão, pois esse é provavelmente o mais pernicioso de todos. Muito melhor se deparar com Freddy Kruger do que não achar graça no mundo.
"Filosofia do Tédio", de Lars Svenden (Zahar), é uma brilhante meditação sobre a dificuldade moderna em nos interessarmos pela vida, uma vez que ela não é mais justificada pela palavra divina ou por nossa luta heróica contra os "troços" que circulam pelas trevas. Para Svenden, contra o tédio, ainda não inventamos nada melhor do que o remédio do Romantismo: uma mistura de anestesia (drogas lícitas e ilícitas) com transgressões que deveriam provar que estamos vivendo grandes aventuras e experiências "incríveis". Se for para escolher, prefiro os esforços de Zoé para repovoar o mundo de monstros e demônios.
Mas há uma terceira via. Li, nestes dias, "O Olho da Rua", de Eliane Brum (Globo). Brum, repórter especial da revista "Época", reúne dez grandes reportagens escritas entre 2000 e 2008. Fazia tempo que um livro não me tocava tanto. Que Brum fale das parteiras do Amapá, da guerra em Roraima, dos velhos da casa São Luiz para Velhice, ou mesmo que ela acompanhe o fim da vida de uma paciente terminal, seu texto é uma verdadeira alegria - pois ele nos lembra, simplesmente, que o mundo importa, que ele vale a pena. Como ela consegue?
O tédio moderno é uma forma de arrogância: a vida é chata porque nós seríamos maiores que sua suposta trivialidade insossa; tendemos a menosprezar o cenário onde nos toca viver, como se ele fosse demasiado banal para nossas façanhas. Pois bem, o segredo de Brum é o oposto disso, é uma extraordinária humildade diante do que existe.
Quando Zoé cansar de inventar monstros para dar sentido ao mundo e à vida, vou lhe sugerir o livro de Eliane Brum.

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Um texto antigo para recordar...

Texto de 2002, era de turbulência afetiva. Descobri que você só pode amar desprendido dos amores que se foram. Hoje amo na plenitude porque entreguei o que não era mais meu.

Um penetra de fé


Uma vez uma aluna perguntou, durante um curso de Introdução à Análise de Discurso, se eu acreditava em Deus. Eu disse que sim e ela rebateu dizendo que eu estava sendo incoerente com a teoria do discurso. Eu disse a ela que não. Primeiro porque nossa relação com Deus no plano da intimidade não dá para ser explicada por nenhuma teoria. Por isso é fé. Segundo, aí já no campo da teoria que explica o funcionamento de um discurso religioso, o fato de eu saber como é produzido esse regime de verdade não torna essa verdade menos verdadeira para mim. Não sei se ela se convenceu, mas eu estou convicto da minha relação com Deus, relação que andou meio abalada, confesso publicamente.

Andei meio distante de Deus nesses últimos tempos. Usei as desculpas de praxe: pouco tempo, os padres estão chatos, a missa é muito longa e repetitiva, o Artur Neto é um puxa-saco do FHC, o Equador vai jogar com a Croácia, enfim, mil desculpas.

Nesse aspecto, Deus é legal, pois Ele não nos força a nada. É como disse há muito tempo o Pe. Cânio Grimaldi, personal father da nossa família: as coisas do espírito não podem ser obrigadas. Então, se você está a fim de chegar perto de Deus, ser afagado, lá está Ele, tal qual nossa mãe. Chamá-lo de Pai é herança do patriarcado dos hebreus. Ele é mais mãe. Se você se afasta, busca outros rumos, outras prioridades, Ele não reclama. Aliteração necessária: Deus deu a dádiva do livre arbítrio foi para isso. Mas mais cedo ou mais tarde, quem d'Ele sentiu o carinho volta.

Eu voltei um pouco hoje. Um muito. E como um católico básico, um-ponto-zero, voltei porque estava angustiado, perdido, dolorido com as coisas que a vida traz. O católico-padrão age assim: só volta estropiado, feito menino-barrigudo que não ouve conselhos. Hoje eu estava assim. Entre as várias coisas que me ocorreram fazer para minimizar minha angústia, entre algumas opções sensatas e outras nem tanto, estava a de entrar numa igreja e rezar. Entrar, sentar lá no banco de trás e rezar. Visitar um velho amigo. Tomar um cafezinho, perguntar pelos seus.

Parei e estacionei. Nem me importei com o flanelinha pedindo para "reparar o carro", coisa que geralmente me irrita. Concordei e fui. Na verdade, acabei me convidando para uma missa de 15 anos que estava para começar. Peguei o boletim personalizado que todas as missas de 15 anos têm, ajoelhei meio sem jeito no fundão, deslocando até o menisco por falta de calo. Afrouxei o nó da gravata, dos desejos, dos receios. Calei a voz, e fechei os olhos. Dispus-me a lamber o chão dos palácios e castelos suntuosos dos meus sonhos, como na receita de Gilberto Gil.

Fui muito bem recebido, senti uma paz de espírito que não sentia desde que, ainda limpo da vida suja e mesquinha de cada dia, fiz minha primeira comunhão num domingo ensolarado na Igreja de Aparecida. Parece que Ele estava me esperando. Até a leitura impressa no boletim parecia conter, acima do texto, um post-it amarelinho colado e escrito à mão: "Para o Sérgio".

A festa era para a Érika, felicíssima, e para mim, tristíssimo. Ela, 15 anos de vida. Eu, 15 anos de ausência. Ok, uma missa aqui, outra ali, Natal, Páscoa, mas nada tão inclusivo quanto à época em que fazia parte do grupo de jovens, da pastoral da música, num ato de nepotismo religioso muito grande do Paulo, meu irmão, que tocava o violão. Eu carregava o violão. Mas carregava com uma fé!

As músicas eram só músicas "do meu tempo". Ave-Maria do Pe.Zezinho, Renova-me, Fica sempre um pouco de perfume, Utopia. De repente eu voltei no tempo, vi-me criança no catecismo do sábado à tarde. Senti a mão da minha vozinha correndo por entre meus cabelos, sentindo que ela olhava ternamente para mim com seus olhos infinitamente azuis e seu sorriso lindo e contornado por seu batom vermelho que deixava uma cicatriz de amor em nossas bochechas a cada beijo. Era como ela fazia naquelas tardes de sábado. Teria sido um anjo? Minha vó era um anjo. Eu senti, juro. Pensei comigo: "Meu Deus, que paz!". Alguém respondeu sorrindo: "Eu sei".

Fiquei ali por mais de uma hora. Não queria mais sair. Entrei pesado, triste, amargo, quebrado, sozinho. Tudo foi-se no primeiro fechar de olhos. Tudo. Olhei lá frente, pois já tinha recuperado a força para erguer a cabeça, e vi Jesus na cruz. Pensei naquele amor todo. Pensei em quão pequeno se tornara meu problema, minha dor, diante de tal resignação, de tal entrega. Resolvi entregar. Resolvi me entregar. Deixar de ser um humano arrogante, racional, e reconhecer que não estava conseguindo e nem iria conseguir. Descobri que minha dor era fruto de meu egoísmo, de eu querer algo para mim, sem pensar nos outros envolvidos. A leitura falava do manjadíssimo "Amai-vos uns aos outros". Simples, direto. Eu estava no "Amai-me a mim mesmo". Era esse o nó. Desatei. Desatamos. Desataram.

Renovado, como o pedido da música, dei os parabéns para a Érika, para seu Wladimir e para dona Ivone, os seus pais. Devem estar se perguntando até agora quem era aquele rapaz com olheiras profundas, mas tão feliz. Não tive a cara de pau de ficar para os comes & bebes, apesar da idéia ter me passado pela cabeça.

Saí e, na porta, voltei. Esqueci de agradecer a acolhida. Olhei para Jesus na cruz e agradeci. Olhei Nossa Senhora de Nazaré e vi que ela estava feliz, com um sorriso maroto. Era como se dissesse: "Volta, hein!" Voltarei, sim. Cantei para ela a música do Pe. Zezinho, que também parecia ter sido feita para mim. Prometi que a próxima vez não seria só na missa do aniversário de 30 anos da Érika.

Minha mãe Helena me disse que não há amor maior do que o que os pais sentem pelos filhos. Não tenho filhos, mas amo muita gente. E com uma intensidade mil pontos na escala Richster dos amores. O amor por um filho deve, então, ser um amor muito grande mesmo. Mais uma vez vou com a minha gordinha e vou acreditar nela. Até porque hoje eu senti esse amor, como filho. Por parte dela, minha mãe, e na igreja. E re-aprendi que, diferentemente do que a gente aprende no mundo sem Deus, é preciso dar para receber, que meia bolacha na cara não tem graça, pois é preciso dar o outro lado ao bofete. Que amor é doação. É renúncia. É abrir mão. Como quando você solta uma pombinha pela paz. E paz não é utopia. Não busque explicar tudo isso pela razão. Não dá.

Tal qual Abraão, decidi depois dali oferecer e entregar a Deus algo muito especial, tão insubstituível para mim como seu filho Isaac era para ele. E essa renúncia era a razão da minha angústia inicial. Tinha que fazê-la, mas me angustiava, faltava-me algo. Depois dali, passou a angústia, veio o conforto. Lembrei que fica sempre um pouco de perfume nas mãos que oferecem rosas.

E o conforto é explicável: o aniversário era da Érika, mas quem ganhou um presente fui eu, o penetra: ganhei minha fé de volta. E que presente. Coisa de pai para filho mesmo.

Sérgio Augusto Freire de Souza
12 de junho de 2002

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quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

"Name, name! What's in a name?"

Aqui vai a coletânea de nomes estranhos:


Abrilina Décima Nona Caçapava; Abxivispro Jacinto; Acheropita Papazone; Adolpho Hitler de Oliveira; Adoração Arabites (masculino); Agrícola Beterraba Areia Leão; Alce Barbuda; Aldegunda Carames More (masculino); Aleluia Sarango; Alfredo Prazeirozo Texugueiro; Alma de Vera; Amado Amoroso; Amin Amou Amado; Amor de Deus Rosales Brasil (feminino); Andrés Urdangarin Dorronsoro; Antônio Americano do Brasil Mineiro; Antonio Buceta Agudim; Antônio Cacique de New York (juiz-presidente do TRT da 22ª Região); Antonio Camisão; Antonio Dodói; Antonio Manso Pacífico de Oliveira Sossegado; Antonio Melhorança; Antonio Noites e Dias; Antônio P. Testa; Antonio Pechincha; Antônio Querido Fracasso; Antonio Treze de Junho de Mil Novecentos e Dezessete; Aricléia Café Chá; Arnaldo Queijo; Asteróide Silverio; Audifax.

Bailão Fernandes da Silva; Bananéia Oliveira de Deus; Bandeirante Brasileiro Paulistano; Barrigudinha Seleida; Benedito Autor da Purificação; Benedito Camurça Aveludado; Benedito Froscolo Jovino de Almeida Aimbare Militão de Souza; Benvindo Viola; Bispo de Paris; Bizarro Assada; Boaventura Torrada; Bom Filho Persegonha; Brandamente Brasil; Brígida de Samora Mora Belderagas Piruégas de Alfim Cerqueira Borges Cabral; Bucetildes (chamada, pelos familiares, de Dona Tide).

Cafiaspirina Cruz; Caius Marcius Africanus; Capote Valente e Marimbondo da Trindade; Carabino Tiro Certo; Carlos Alberto Santíssimo Sacramento Cantinho da Vila Alencar da Corte Real; Caso Raro Yamada; Céu Azul do Sol Poente; Chananeco Vargas da Silva; Chevrolet da Silva Ford; Chikakó; Cincero do Nascimento; Cinconegue Washington Matos; Clarisbadeu Braz da Silva; Colapso Cardíaco da Silva; Comigo é Nove na Garrucha Trouxada; Confessoura Dornelles

Danúbio Tarada Duarte; Darcília Abraços de Carvalho Santinho; Deus Infinitamente Misericordioso; Deusarina Venus de Milo; Devercilirio Silveira da Costa; Dezêncio Feverêncio de Oitenta e Cinco; Dignatario da Ordem Imperial do Cruzeiro; Disney Chaplin Milhomem de Souza; Dosolina Piroca Tazinasso

Ernesto Segundo da Família Lima; Esdras Esdron Eustaquio Obirapitanga; Esparadrapo Clemente de Sá; Espere em Deus Mateus (Itabirito, MG); Estácio Ponta Fina Amolador; Excelsa Teresinha do Menino Jesus da Costa e Silva

Faraó do Egito Sousa; Farmácio Lopes; Fedir Lenho; Felicidade do Lar Brasileiro; Finólila Piaubilina; Flávio Cavalcante Rei da Televisão; Fordência da Silva; Francisco Notório Milhão; Francisco Zebedeu Sanguessuga; Francisoreia Doroteia Dorida; Fridundino Eulempio

Graciosa Rodela; Gravitolina Pereira; Guelery Borges

Hericlapiton da Silva (de Eric Clapton); Heubler Janota; Hidráulico Oliveira; Himineu Casamenticio das Dores Conjugais; Homem Bom da Cunha Souto Maior; Horinando Pedroso Ramos; Hugo Madeira de Lei Aroeira; Hypotenusa Pereira, Hierozolima Formigosa

Inocêncio Coitadinho; Isabel Defensora de Jesus; Itaparica Boré Fomi de Tucunduvá; Izabel Rainha de Portugal

Jacinto Fadigas Arranhado; Jacinto Leite Aquino Rego; Janeiro Fevereiro de Março Abril; Jhansley Ferreira da Mata; João Bispo de Roma; João Cara de José; João Cólica; João da Mesma Data; João de Deus Fundador do Colto; João Meias de Golveias; João Pensa Bem; João Sem Sobrenome; Joaquim Pinto Molhadinho; José Amencio e Seus Trinta e Nove; José Casou de Calças Curtas; José Catarrinho; José Lopes Tamborim; José Machuca; José Maria Guardanapo; José Padre Nosso; José Sudário; José Teodoro Pinto Tapado; Jovelina da Rosa Cheirosa; Juana Mula; Júlio Santos Pé-Curto; Justiça Maria de Jesus

Kêmula Katrine; Kunigunda Grohmann

Lança Perfume Rodometálico de Andrade; Leão Rolando Pedreira; Leda Prazeres Amante; Letsgo (de Let's go); Liberdade Igualdade Fraternidade Nova York Rocha; Lindulfo Celidonio Calafange de Tefé; Liney Lindsay Nascimento de Araujo; Lynildes Carapunfada Dores Fígado

Magnésia Bisurada do Patrocínio; Maicon Jakisson de Oliveira; Manganês Manganésfero Nacional; Manoel de Hora Pontual; Manoel Sovaco de Gambar; Manolo Porras y Porras; Manuelina Terebentina Capitulina de Jesus Amor Divino; Maria Cristina do Pinto Magro; Maria da Cruz Rachadinho; Maria da Segunda Distração; Maria de Seu Pereira; Maria Felicidade; Maria Humilde; Maria Panela; Maria Passa Cantando; Maria Privada de Jesus; Maria Tributina Prostituta Cataerva; Matozóide; Meirelaz Assunção; Mijardina Pinto; Mimaré Indio Brazileiro de Campos; Ministéio Salgado

Naida Navinda Navolta Pereira; Napoleão Estado do Pernambuco; Napoleão Sem Medo e Sem Mácula; Necrotério Pereira da Silva; Novelo Fedelo

Obedemigo Pereira; Oceano Atlantico Linhares; Oceano Pacífico; Ocricócrides de Albuquerque; Olinda Barba de Jesus; Omenzinha; Orlando Modesto Pinto; Orquerio Cassapietra; Otávio Bundasseca

Padre Filho do Espírito Santo Amém; Pália Pélia Pólia Púlia dos Guimarães Peixoto; Pedra da Penha; Pedrinha Bonitinha da Silva; Pedro Bonde; Pelumendia Loureiro; Peta Perpétua de Ceceta; Plácido e Seus Companheiros; Presolpina Furtado; Primeira Delícia Figueiredo Azevedo; Primorosa Santos; Produto do Amor Conjugal de Marichá e Maribel; Protestado Felix Correa

Radigunda Cercená Vicensi; Reimar Rainier de Oliveira; Remédio Amargo; Ressurgente Monte Santos; Restos Mortais de Catarina; Rita Marciana Arrotéia; Rocambole Simionato; Rolando Caio da Rocha; Rolando Escadabaixo; Rômulo Reme Remido Rodó

Sampaio Carneiro de Souza e Faro; Sebastião Salgado Doce; Segundo Avelino Peito; Serdeberão dos Anjos Pereira Vargas; Sete Chagas de Jesus e Salve Patria; Sete Rolos de Arame Farpado; Sherlock Holmes da Silva; Simplício Simplório da Simplicidade Simples; Soraiadite das Duas a Primeira; Sossegado de Oliveira; Spiridon Nicofotis Anyfantis; Sudene Fátima Machado

Telesforo Veras; Terebentina Terepenis; Terprando Wilson Rego; Tospericagerja (em homenagem à seleção do tri: Tostão, Pelé, Rivelino, Carlos Alberto, Gerson e Jairzinho); Trazíbulo José Ferreira da Silva; Tropicão de Almeida

Última Delícia do Casal Carvalho; Último Vaqueiro; Um Dois Três de Oliveira Quatro; Um Mesmo de Almeida; Universo Candido; Usnavy (em homenagem à U.S.Navy, a Marinha Americana)

Valdir Tirado Grosso; Veneza Americana do Recife; Vicente Mais ou Menos de Souza; Vitimado José de Araújo; Vitor Hugo Tocagaita; Vitória Carne e Osso; Voltaire Rebelado de França

E finalmente: Wanslívia Heitor de Paula.



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terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Um texto antigo para recordar...

Este texto escrevi em 2002. Mas é como jornal velho. Já encontrei quem procurava.

CLASSIFICADOS

Procura-se um amor. Mas não qualquer amor. Um amor que considere as necessidades abaixo.
Procura-se um amor que goste de amar sem motivo, pelo simples prazer de amar.

Procura-se um amor que goste de dormir aconchegado, com um perna por cima da sua e tendo seus cabelos enrolados durante a noite inteira, com risco de nozinhos para tirar pela manhã.

Procura-se um amor que goste de arrumar contas em fichários, que goste de fazer listinhas de coisas a fazer e a comprar. E que mesmo que eu esqueça de falar, traga meu pacotinho de jujuba.

Procura-se um amor que goste de quem eu gosto como gosta de mim, pois será igualmente gostado por quem eu gosto e por quem gosta de mim.Procura-se um amor que sorria ao me ver, que morda os lábios sempre que me abraçar.

Procura-se um amor que aceite pequenos defeitinhos como não ser capaz de achar nada, deixar a porta aberta sempre que passar e só tomar sopa passada no liquidificador.

Procura-se um amor que ralhe comigo quando houver exagero, mas que se delicie comigo de vez em quando com uma barra de chocolate com castanha de caju e uma compota de doce de cupuaçu.

Procure-se um amor extravagante nas suas formas de amar, que invente a cada gesto uma forma de mostrar o quando significo em sua vida.

Procura-se um amor com anomalia genética: que não tenha em seu DNA o gene da indiferença, cruel e dispensável.

Procura-se um amor disposto a uma entrega total, mesmo que isso às vezes pareça sufocar. Um ou outro. Beijo também sufoca.

Procura-se um amor que tenha sonhos, para que se possa sonhar juntos, que lute por causas, para que um possa carregar as flechas do arco do outro em suas batalhas. Mas procura-se um amor que tenha como sonho maior nosso futuro e como causa maior o nosso presente, o amor que nos une. E disso não abra mão.

Procura-se um amor que não tenha receio de encharcar-se ao enxugar as lágrimas de dor que eventualmente caiam sobre sua roupa, estragando-as; procura-se um amor que saiba igualmente se esbaldar como criança em banho de cachoeira com as lágrimas das vitórias compartilhadas.

Procura-se um amor que esqueça a razão e jure, de pés juntos e sem figuinha, que será para sempre, mesmo sabendo racionalmente que “o pra sempre sempre acaba”.

Procura-se um amor que goste de Coca-light, com gelo e limão. De pimenta murupi. De tambaqui ao molho de camarão. De sorvete branco do Select. De tacacá da banca do Wande. De Pizza de pimenta. E que seja capaz de rir do day after.

Procura-se um amor que goste de verduras, para que possa receber em seu prato as que vierem para o meu.

Procura-se um amor que suporte saber tudo de mim, inclusive minhas fraquezas mais fracas. E que um dia não use essa informação contra mim.

Procura-se um amor que me faça queimar a pasta de planos alternativos para a vida, que seja capaz de me convencer de que não preciso mais dela.

Procura-se um amor que seja honesto e sincero, o que é uma redundância, pois todo amor verdadeiro o é.Procura-se um amor que saiba ser menina, que saiba dengar.

Procura-se um amor que saiba ser mulher entre as quatro paredes, amando sem medida, suando, gritando, gozando verdadeiramente com sua alma.

Procura-se um amor que não se sinta menor ou diminuído por cuidar de mim. Pois eu também vou cuidar desse amor.

Procura-se um amor que se orgulhe de minhas vitórias e saiba que a recíproca será sempre verdadeira; Que esteja lá, mesmo em silêncio, nas minhas derrotas, com uma mão em meu ombro e outro a me fazer cafuné.

Procura-se um amor que tenha ombro e colo, preferencialmente macios e aconchegantes, onde eu possa pousar minha cabeça e sonhar nossos sonhos ou simplesmente calar minha dor até adormecer.

Procura-se um amor que saiba que amar é mais do simplesmente dar as mãos. Que amar é dar as vidas, incondicionalmente, com todos os riscos.

Procura-se um amor que marque minhas consultas e vá comigo para ajudar na sempre chata sala de espera. E na saída pergunte, preocupado, o que o médico disse.

Procura-se um amor que me leve no aeroporto, que me ‘panhe’ lá também. E que, mesmo quando a distância da viagem for infinita, não tire do coração o perfume que ficou no abraço da despedida, um amor que vibre com o reencontro como se fosse o primeiro.

Procura-se um amor que não minta, que não me faça sentir bobo (a não ser de amor), não diante dos outros, mas diante de si próprio, numa situação patética de amor desperdiçado num mundo carente de afeto.

Procura-se um amor que goste de eu comer seu nariz, num gesto imaginário de incorporação de sua carne à minha própria de tanto amor.

Procura-se um amor que saiba qual meu prato predileto, que saiba que eu odeio alcaparras e cebolas, que saiba que comeria bife-arroz-farofa todos os dias.

Procura-se um amor que goste de cachorro. Não precisa nem ter um, mas que goste. Não gostar de cachorro é sintoma de uma carência fundamental.

Procura-se um amor que acredite em mim. Mais importante: que acredite em si. Pois assim podemos, como diz Rubem Alves, jogar frescobol e não tênis, fazer a bolinha chegar ao outro e não buscar tirá-lo da jogada.

Procura-se um amor bom de coração como meu pai e decidido como minha irmã. Mas pouco impetuoso. Os impetuosos põem tudo a perder. Inclusive um grande amor.

Procura-se um amor que possa ser, comigo, alvo de frases como: “que casal lindo e feliz”, sem que o tom da frase seja de inveja, mas sim de uma melodia harmoniosa de admiração.

Procura-se um amor que saiba limpar meus óculos enquanto dirijo, para que eu possa ver melhor para onde estamos indo. Que segure os mapas em nossas viagens para que eu não me perca nas difíceis vias da vida.

Procura-se um amor e ele pode ser surdo, pois serei sua audição; ele pode ser cego, pois o conduzirei com segurança na falta de luz; esse amor pode ser inclusive mudo, pois gritarei por ele a todo momento.

Procura-se um amor romântico, que adore Mariah Carey e Michael Bolton, que odeie o Bonde do Tigrão, mas saiba, de repente, dançá-lo numa noite louca, regada à licor de chocolate.

Procura-se um amor que me faça rir com seus comentários e que possa entender meu riso como admiração pela genialidade e não desprezo por sua opinião inusitada.

Procura-se um amor que saiba não brigar com meu computador, pois ao fazer isso reduz-se a uma máquina.

Procura-se um amor que cuide de plantas, pois sou muito incompetente para fazê-lo e muito carente de verde ao meu redor para dispensá-las.

Procura-se um amor que tenha seu computador e que me chame para consertá-lo, instalar uma placa, colocar um programa. Que una sua necessidade a meu prazer e vice-versa. Que me peça para tirar um vírus. Seja do computador, seja de sua vida.

Procura-se um amor que negocie nossas coisas, nossas compras. Eu não sei.

Procura-se um amor que não me chame pelo meu nome. Nunca. Que me chame carinhosamente por um apelido tão nosso que os outros passem a me chamar assim também. Que me dê identidade sem tirar a minha, como os retalhos num manto de arlequim.

Procura-se um amor que não erre. E se errar, que reconheça. E que se reconhecer, que reaja.Procura-se um amor que goste de tomar água de coco no final da tarde, vendo o sol se pôr. Que goste de vagar de carro pela cidade, sem rumo.

Procura-se um amor que converse comigo por olhar, por suspiro, por silêncio. Procura-se um amor para quem eu possa dar a última almôndega do meu prato se ambos ainda estivermos com fome.Procura-se um amor que me convença da inutilidade de classificados.

Procura-se um amor, enfim, que não saiba cuidar de mim quando eu estiver ferido de morte por ele. Pois se chegar a tal ponto, eu não o quero de início.

Procura-se um amor assim. Pode ser um pouquinho diferente.

Aceitam-se contra-propostas. Gentileza, caso haja interesse, procurar no fundo do poço mais escuro da terra. Não precisa marcar hora. Há até uma certa urgência.”

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Esquadros


Por mais que se tente buscar com os olhos o que passou, tudo ficará cada vez mais distante de nosso alcance. Pessoas, fatos e experiências vão ficando sempre mais para trás, restando acompanhar o que se foi pelo retrovisor.

A metáfora do retrovisor é bela. Mas dentro de nós existe um outro mundo que está fora do tempo, desrespeitando as leis da física e nunca se distanciando: o mundo da memória. Nele ficam guardadas as coisas que amamos e que passaram, que não existem mais no mundo lá de fora, mas que movimentam-se reais no mundo aqui de dentro. Adélia Prado diz que “aquilo que a memória ama fica eterno”. As coisas ficam eternas na alma porque ela, a memória, é o lugar do amor. E o amor não suporta ver as coisas amadas engolidas pelo tempo.

Quais pessoas que passaram pelas nossas vidas e por suas presenças – ou suas ausências – nos tornaram outros? Que lembranças da infância nos voltam vivas por cheiros, músicas e lugares revisitados fisicamente ou no sempre bem-vindo passeio da mente? Ainda sinto o gosto do sagrado sorvete de coco que tomava aos domingos com meus pais. Volta e meia encontro pêlos dos meus cachorros grudados em minha alma. O primeiro beijo que dei acordou todas as borboletas do meu estômago. Minha memória brinda-me, porque os amo, com momentos cristalinos da minha infância. Meus amigos, as brincadeiras de rua, o futebol de moleque no campinho da rua seis. A briga de rua que me ensinou que eu seria uma pessoa da paz. Demis Russos cantando “Forever and ever” me transporta para a distante e presente época em que se tomava banho nos igarapés da cidade.

As memórias não precisam de retrovisor, apenas de coração. Ao olhar o passado pelo retrovisor corremos o risco de bater o carro da vida. Há de se olhar mais para frente. Preso ao que passou, o coração não vê outros ares e fica batendo descompassado com o presente, perdendo o futuro e se quedando ainda mais distante do passado. Pensar o passado pelo critério de memória é a chave. Outra frase a ver com isso: “só possuo aquilo de que lembro”. Está no belo livro “O infinito na palma da sua mão”, de Rubem Alves – ele próprio presente na minha memória de uma noite de conversa mágica nos meus tempos de Campinas.

Saudade vem do latim "solitáte", solidão. O regresso, em grego, diz-se “nostos” e “algos” significa sofrimento. A nostalgia é assim o sofrimento causado pelo desejo insatisfeito de regressar. Viver o passado pode ser um ato saudoso (se feito na solidão e por ela), nostálgico (se não foi vivido na plenitude e a ele nos prende, carecendo de exorcismo) ou memorioso (quando lembrado com amor e como parte inexorável da vida). Esquadros.

“Esquadro” tem a mesma origem que “esquadrinhar”, “escrutar”, “perscrutar”, que significam sondar, buscar minuciosamente; “esquadro” ainda acrescenta a idéia de medir algo minuciosamente. Juntando Rubem e Adélia, posso dizer que eternizo aquilo de que lembro porque a memória ama. Esse é o meu esquadro. Só não posso cair na hiper-consciência que lembra a angústia de um poema como “Os ombros suportam o mundo”, de Drummond: “Ficaste sozinho, a luz apagou-se,/ mas na sombra teus olhos resplandecem enormes”. Não dá para esquecer, claro, que o mundo nem sempre cabe num esquadro só. Quase nunca. Nunca.

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segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Calendário 2009


Quem quiser um calendário 2009 com fotos de duas modelos pode mandar revelar esse aqui. Tem resolução suficiente para uma 20x25. Eu que fiz. As duas e o calendário.

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Mundo Cinza

É cada vez mais difícil tomar posição sobre as grandes questões em debate na sociedade. Ambientalistas x desenvolvimentistas, criação x, evolução, esquerda x direita, ciência x religião... Todo mundo tem certeza, todo mundo tem razão. A gente lê uma argumentação brilhante e concorda com ela. E - graças à internet - segundos depois lê uma contra-argumentação tão brilhante quanto e também concorda com ela.

Dá a impressão que antigamente as coisas eram mais claras. De que havia o preto e o branco, o bem e o mal e não era difícil escolher de que lado ficar. Mas será que essa "facilidade" acontecia por serem as coisas, digamos, mais simples? Ou será que antigamente, sendo mais jovens e inexperientes, nosso repertório, nosso conhecimento, nosso raciocínio é que era simplório e escolhia de forma superficial, pelas aparências? Conforme vamos evoluindo, ouvindo e lendo mais, refinando nossa capacidade de análise crítica, reparamos nos detalhes sutis, entendendo as argumentações sofisticadas e a multiplicidade de pontos de vista. E o que era preto ou branco - pela certeza da ignorância -
fica cinza...

Por exemplo, a Colômbia acertou ou errou quando invadiu o território do Equador para liquidar os terroristas das FARC? Em minha opinião a Colômbia errou. Quebrou um princípio básico : invadiu a casa do vizinho. Isso não se faz, é um ato de violência, passível de retaliação. Mas em minha opinião a Colômbia acertou: eliminou os terroristas que estavam seqüestrando, matando e ameaçando um governo eleito democraticamente. Mesmo que para isso tivesse que invadir a casa do vizinho.
Portanto, tenho que condenar a Colômbia. Mas não me atrevo a censurá-la. No lugar de Uribe eu faria a mesma coisa.

É o velho choque entre princípios e pragmatismo. Quem estuda política está familiarizado com essa discussão.

Princípios ou crenças e valores constituem a base que suporta as ações de um indivíduo. São como filtros que determinam aquilo que entendemos como certo, correto, justo e leal. Esses filtros são desenvolvidos ou inibidos conforme nossa educação, na família principalmente, pelos exemplos de nossos pais e das pessoas que estão próximas enquanto crescemos.
Por exemplo, tenho como princípio não roubar. Qualquer ação que eu decidir praticar tem que estar de acordo com esse princípio e não admito deslizes. É claro e simples assim.
Mas então surge o pragmatismo, o ponto de vista que subordina a verdade à utilidade. Não roubo, por princípio. Mas se a vida de meu filho depender de eu roubar, vou roubar sim.
Você pode até dizer que isso é compreensível, que o princípio do roubo foi atropelado por um princípio mais forte: o da preservação da vida. Mas a minha decisão terá sido pragmática.

O caso das pesquisas com as células-tronco envolve o mesmo conflito entre princípios e pragmatismo. A legalização do aborto. E a questão do aquecimento global também. Lula abraçado a Sarney ou Collor é um exemplo do pragmatismo que se sobrepõe a princípios. Todo aquele discurso idealista da esquerda cai por terra assim que ela assume o poder. Muitos dirão que Lula está errado ao trair seus princípios. Outros dirão
que se ele não agir assim, não governa: para exercer política é necessário ser pragmático. E então passamos a aceitar certos deslizes como sendo "parte do jogo". Deixamos de lado nossos princípios em nome do pragmatismo.

Esse é o momento em que a luz de alarme deve ser acesa. Afinal, o que é que você leva em consideração para escolher um amigo ou eleger um político? Os princípios ou pragmatismo dele?
Pois é... Não existe mais preto ou branco.
O mundo ficou cinza.

Luciano Pires

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