sábado, 13 de dezembro de 2008

Longe Perto

A etimologia nem sempre é o único lugar para começar, mas é um lugar. Rezam os registros dos deuses da lingüística que a palavra “irmão” vem do latim “germen", semente. Irmão seria, portanto, aquele vem da mesma semente. Quando falamos em “semente”, que também é uma palavra latina, nos referimos à origem. Qualquer pessoa mais sensível para as belezas do mundo sabe que a semente aqui referida não se limita à origem biológica, mas a origem enquanto lugar de partida, o ninho.

Irmão para mim é aquele que sai do mesmo lugar, simbolicamente falando. Aquele que, mesmo divergindo nos caminhos, converge em princípios e em bem-querer não só para os conterrâneos de origem, mas todos os bons do mundo. Irmão chora junto e enxuga as lágrimas. Estoura a champagne e faz o churrasco da vitória. Irmão segreda segredos secretos. Irmão é cúmplice. Na fala. No silêncio. Na arte. Irmão sente a presença da ausência do outro.

Fico pensando se fosse filho único. Não ter irmão para mim é um non-sense, um não sentido. Com quem aprender a dividir? De quem sonegar no egoísmo infantil? Na cabeça de quem bater o martelo de madeira? A quem recorrer nas ausências da alma? Ser irmão é falar, mesmo no silêncio. É estar presente, mesmo na distância. É compartilhar as coisas boas do mundo e puxar da lama das ruins, quando atolamos. Ser irmão é ter códigos secretos, impenetráveis. Uma linguagem criada pela história de vida que não é compreendida por nenhum forasteiro, por mais atento que seja.

Irmão protege. Ou sendo escudo, para receber em si as pedras da existência, ou abrindo a porta, para que nosso aprendizado se dê calejando os pés em caminhos não tão macios, mas necessários no crescimento do ser. Ser irmão é dizer o que é preciso, com o carinho e a verdade dos que amam. Ser irmão é ouvir o que é necessário: ninguém que nos ama nos diria algo se não fosse exclusivamente para nos ver bem. A vida nos põe junto dos irmãos por um motivo. Ela os escolhe para nós. O segredo da felicidade é compreender as razões secretas desse quebra-cabeça. Descobrir o que aprender com cada irmão.

Segundo os dicionários, há os irmãos de leite: indivíduos amamentados pela mesma mulher que é mãe de um e ama do outro; os irmãos uterinos: irmãos filhos da mesma mãe e de pais diferentes; os irmãos consangüíneos: irmãos filhos do mesmo pai e de mães diferentes; os irmãos germanos: irmãos filhos do mesmo pai e da mesma mãe; os irmãos adotivos, que Deus escolhe a dedo, e os irmãos siameses: biologicamente grudados. Irmão, para mim, resume-se ao siamesismo de alma. É a alma grudada que faz com que, nas nossas diferenças, sintamos a presença dos irmãos em nós, na nossa vida, na nossa existência.

Hoje é aniversário de um dos meus quatro irmãos. Pensei nele e no quanto dele há em mim. Eu seria menos eu se não o tivesse tido. Caminhos bifurcam e se encontram sempre lá na frente. O poeta T.S. Eliot diz: “E, ao final de nossas longas explorações, chegamos ao lugar de onde partimos e o conheceremos então pela primeira vez”. O poeta Nilson Chaves reza na música que dá título a este texto: “Toda vez que eu viajar é sinal que estou aqui e quando estiver por lá quer dizer: nunca parti. A vontade de voltar não impede a de seguir. E, por onde quer que eu vá, estarei vivendo em ti”. Vale para lugares. Vale para pessoas. Te amo, mano.

Um comentário:

Anônimo disse...

Liiiiiiiiindddddddddooooooooo, Velho! Se eu fosse o Mauro, estaria super emocionado e feliz!
Bj