sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

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quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Fotografia


Essa foi roubada do site http://ombudsmae.blogspot.com/... Isso é que é vida!

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terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Assisti a "Vicky Cristina Barcelona"

Gosto muito de Woody Allen. Acabei de chegar do cinema. O filmo é ótimo. Em vez de resenhá-lo, transcrevo texto de Contardo Calligaris, embaixo do qual assino.

VICKY CRISTINA BARCELONA

Contardo Calligaris



O amor-paixão é uma tentação irresistível, é o protótipo da vida intensamente vivida

"VICKY Cristina Barcelona", de Woody Allen, estreou no Brasil na semana passada. Com muita leveza e muito bom humor, o filme me levou a pensar nos percalços da vida amorosa.
A história do verão em Barcelona de Vicky e Cristina é um pequeno tratado do amor-paixão: os espectadores terão o prazer (ou desprazer) de se reconhecer em algum lugar do leque de experiências amorosas que o filme apresenta -é um leque pequeno, mas do qual escapamos pouco. Sem resumir, eis umas notas:

1) Os casais que se amam de paixão, cujos parceiros parecem ser feitos um para o outro, em regra, acabam tentando se matar -com faca, revólver ou qualquer outro instrumento (cf. Juan Antonio e Maria Emilia). É porque, se o outro me completa e vice-versa, o risco é que nenhum de nós sobreviva à nossa união -ao menos, não como ente separado e distinto. Mas, por mais que seja ameaçadora, a paixão amorosa é uma tentação irresistível (cf. Cristina, Vicky, Judy) por uma razão simples: nas narrativas de nossa cultura, ela é o protótipo ideal da experiência plena, da vida intensamente vivida.

2) Por sorte ou não, o amor-paixão é raro. A maioria de nós vive relações menos "interessantes" e menos fatais -relações em que a gente se preocupa em criar os filhos, decorar a casa, ganhar um dinheiro ou jogar golfe (cf. Vicky e Doug, Judy e Mark). Não seria tão mal, salvo pelo detalhe seguinte: em geral, nesses casais "normais", ao menos um dos parceiros vive com a sensação de que sua escolha amorosa é resignada, fruto de um comodismo medroso: "O outro não é bem o que eu queria; culpa minha, que não tive a coragem de me arriscar a amar..."

Detalhe: como o amor-paixão é um ideal cultural, não é preciso ter atravessado a experiência da paixão para idealizá-la (as más línguas diriam, aliás, que é mais fácil idealizá-la sem tê-la vivido em momento algum).

3) Os que parecem não idealizar o amor-paixão passam o tempo se protegendo contra ele. Deve ser por isto que a "normalidade" amorosa pode ser insuportavelmente chata: porque ela exige a construção esforçada de defesas contra a paixão -argumentos morais e sociais, sempre mais "razoáveis" do que racionais (cf. Mark, Doug). Num casal, quem critica a doidice da paixão não parece sábio aos olhos de sua parceira ou de seu parceiro; ao contrário, ele parece, quase sempre, pequeno e um pouco covarde (cf. Vicky e Doug, Judy e Mark).

4) A paixão não é uma coisa que a gente possa encontrar saindo pelo mundo como um turista da vida (cf. Cristina). Pois não basta esbarrar na paixão; ainda é preciso encará-la quando ela se apresenta.

Pode ser que, um dia, se ela conseguir matar Juan Antonio com um tiro certeiro, Maria Emilia seja internada ou presa. Pode ser que Juan Antonio seja um sujeito amoral e, por isso, perigoso. Pode ser que Vicky seja desesperadamente normal, trocando a chance de amar por uma casa num subúrbio norte-americano (estou sendo injusto com Vicky: na verdade ela tenta...).
Mas, para mim, a mais "patológica" de todas as personagens do filme é Cristina. Sua aparente abertura para a vida ("Ela não sabia o que queria, mas sabia o que não queria", narra a voz em off) é apenas uma versão "bonita" e literária de sua "insatisfação crônica" (diagnosticada por Maria Emília, com razão). Nisso, Cristina é muito próxima da gente: ela quer e consegue brincar com a paixão, mas sem perder a ilusão da liberdade ou o sonho do que ela poderia encontrar na próxima esquina.

Por isso, sua voracidade é a do turista: tira muitas fotos pelo mundo afora, mas será que ela se deixa tocar pela vida?

5) Disse que "Vicky Cristina Barcelona" trata dos percalços da vida amorosa com leveza e bom humor; de fato, saí do cinema sorrindo, e não era o único. Mas a amiga que me acompanhava comentou: "Adorei, mas é um filme triste". "Como assim?", estranhei. Ela respondeu, com razão: "É um filme triste porque os personagens se apaixonam, vivem sentimentos fortes, mas, no fim, tudo isso não transforma ninguém. Vicky e Cristina vão embora iguais ao que elas eram no começo, sobretudo Cristina...".

Minha amiga tinha razão. O amor e a paixão não nos fazem necessariamente felizes, mas são uma festa e uma alegria porque deles podemos esperar ao menos isto: que eles nos tornem um pouco outros, que eles nos mudem. Agora, nem sempre funciona...

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O Verbo e a Verba

Na administração pública é importante a afinação entre o verbo e a verba.

O verbo sem a verba é um ser sozinho. Não adianta propagandear que se vai fazer mil coisas se não houver lastro no planejamento e na disponibilidade de verbas para sua execução. Todo administrador sabe que os recursos públicos são finitos e a demanda infinita. O cobertor é maior do que o corpo e é necessário decidir o que será coberto e o que ficará descoberto. Se assim não for, o verbo do anúncio programático da administração logo se tornará pó de promessa não cumprida. Hoje se sabe o que o eleitor faz com quem promete e não cumpre.

A verba sem o verbo também é um ente solitário. Determinar as prioridades de investimento é o básico de qualquer administrador responsável. No entanto, de nada servem o melhor planejamento e a mais transparente execução da verba sem a devida reverberação no verbo, sem a publicização dos feitos administrativos. Aliás, servem de motivo para a verberação da oposição, ainda que medíocre como muitas que a gente conhece.

Como qualquer verbo, o verbo do administrador público requer concordância verbal. Mesmo em posições diferentes, todos os seus auxiliares devem habitar um só discurso, convergindo para a compreensão única do que seja administrar a coisa pública, fazendo política transparente. Todos devem saber das responsabilidades das vozes do coral administrativo. Sem identidade no discurso, a imagem do administrador fragmenta-se, fica difusa. Para os auxiliares desafinados, há duas alternativas: exercitar-se atrás da afinação ou ceder lugar no palco. Uma voz fora do tom põe a perder a mais bela cantata de Bach.

Dentro da lei, os auxiliares do administrador público devem atender as demandas políticas. No entanto, esse atendimento não pode sacrificar os marcos conceituais da administração, pois eles sustentam a imagem criada pelo uso competente da verba, imagem que só vingará com o trabalho da comunicação, do uso competente do verbo.

Mesmo finitas, as verbas públicas bem usadas e acompanhadas de verbos eficientes transformam-se em capital político para o administrador na eleição seguinte. Sem um trabalho de linguagem que traduza os feitos administrativos em sentimento de realização dos anseios populares, o administrador some. No máximo, ficará como uma boa experiência eleitoral.

A utilização incorreta dos recursos públicos pode até ser disfarçada por uma boa propaganda. Mas assim como o consumidor não repete a dose de um produto ruim, o eleitor impõe o ostracismo político ao mau administrador do seu dinheiro.

Por fim, o casamento do verbo e da verba não tem efeito retroativo. Se o administrador usou a verba e não usou o verbo como devia, não adianta encher o eleitor de informações às vésperas do pleito porque, mais do que um produto, imagem é um processo. E se não usou a verba como devia, é inútil usar o verbo em propagandas ou artigos de jornais para dizer que fez e aconteceu porque as palavras tropeçam em suas próprias pernas curtas.

No casamento da verba com o verbo ganham o bom administrador e a população. Na briga da verba contra o verbo perdemos todos.

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domingo, 4 de janeiro de 2009

Acabei de ler: "O olho da rua", Eliane Brum


Pouca gente sabe, mas quase fui jornalista. Na hora de escolher que curso fazer no vestibular, fiquei entre Jornalismo e Letras, optando pelo segundo. Mas gosto muito do tema "comunicação", que tem sua interface com as Letras pela linguagem.

Por conta desse interesse, comprei, li e gostei do livro "O olho da rua", da jornalista Eliane Brum. Do surgimento de uma vida no meio da Amazônia, pelas mãos de parteiras da floresta, até os últimos 115 dias de vida de uma merendeira de escola em São Paulo. É por este universo que transita a jornalista em seu livro. Essas duas histórias e outras oito presentes na obra, cujo prefácio é de Caco Barcellos, revelam o estilo da autora, marcado pela delicadeza mesmo ao falar sobre temas áridos. Todas foram publicadas em ÉPOCA, mas de forma reduzida. Agora, o leitor terá a oportunidade de conferir os relatos de Eliane na íntegra.

Em "O Olho da Rua", a jornalista inova ao fazer uma reflexão sobre seu trabalho. Para cada reportagem, ela escreveu um texto sobre os dilemas que enfrentou, as escolhas que fez e os erros que cometeu. É um sincero reconhecimento das limitações do jornalismo.

Clique aqui para ler, na íntegra, a reportagem Casa de Velhos, na qual a autora conta a história de moradores de um asilo no Rio de Janeiro. Leia também o making of dessa história, em que Eliane relata por que essa reportagem, especificamente, é especial para ela. "A Casa de Velhos é uma de minhas reportagens preferidas – e é a que mais me dói. Ainda hoje ela dói muito. Porque errei feio."

É o segundo livro de Eliane que leio. O primeiro, A vida que ninguém vê, é uma coletânea de histórias reais sobre a extraordinária vida das pessoas comuns, foi reconhecido com o Prêmio Jabuti 2007, na categoria melhor livro de reportagem. Recomendo ambos.

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Adeus a um prefeito singular

José Ribamar Bessa Freire

Prezado Serafim Corrêa (PSB)

Saudações!

Escrevo essa carta, mas não repare os senões, para dizer o que penso sobre a sua administração nestes últimos quatro anos como prefeito de Manaus, uma cidade que, desde a época em que se chamava Lugar da Barra, foi sistematicamente saqueada e pilhada por seus governantes. Quem diz isso não sou eu. É Bertino de Miranda, autor do livro publicado em 1908: ‘A Cidade de Manáos – Sua história e seus motins políticos’.

O rei de Portugal nomeava bandidos para governar a Capitania do Rio Negro. Um deles, Joaquim Tinoco Valente (1763-1779), “homem pobre, avarento e sem instrução”, meteu-se nas “negociatas mais sórdidas e abjetas”, uma das quais foi roubar as “camisas e meias dos soldados que o Rei manda distribuir todos os anos pelas tropas na América”. Esse é o inspirador, o herói, o modelo do Zé Mello Merenda. Depois dele, José Antônio Évora, membro da Junta Governativa (1786), nomeou o filho Felipe Évora almoxarife do Erário. Dessa forma, comprou fazendas de gado e ficou podre de rico.

Era comum dar trambiques e desfalques. José Joaquim Vitório (1806-1818) entrou pobre no governo e, em doze anos, se tornou dono da “célebre chácara no Tarumã, onde explorava os índios na plantação de café e canela. Um escândalo”. Ele roubou, roubou, mas roubou TANTO que Governador Vitório é, hoje, nome de rua, no centro de Manaus, cidade que reverencia e celebra seus corruptos. Foi substituído por Manoel Joaquim do Paço (1818-1821), o governador depravado, chefe da ‘quadrilha de facínoras’, que extorquia os empresários da construção civil (Taquiprati 10/12/96).

De lá para cá, mudou a forma de escolher os governantes. O rei, agora, é o povo, o eleitor, mantido desinformado. Talvez, por isso, não mudou a natureza dos políticos, que continuam usando os cargos para enriquecer. A maior parte deles só quer mesmo é “se arrumar”. Conspurcaram a política. De uma atividade bela e nobre feita por pessoas que dedicam suas vidas ao bem comum – tal como idealizaram os filósofos gregos – a política passou a ser algo asqueroso, o chiqueiro da sociedade. Com isso, mataram as esperanças de jovens idealistas, que hesitam em se enlamear.

O chiqueiro

Em todo o Brasil, políticos eleitos têm problemas com a Justiça e só conseguem tomar posse graças a advogados bem pagos, competentes e inescrupulosos, que contam com a cumplicidade de um Judiciário muitas vezes venal. O currículo deles é folha corrida da policia, cheia de antecedentes criminais. Exagero? De uma lista de 38 vereadores de Manaus, me diga, honestamente, quantos demonstram preocupação com o bem comum, a justiça, o bom governo, a coisa pública? Quatro, três, dois? Pobre Manaus!

Em 2004, Serafim derrotou os velhos esquemas de poder enraizados na sociedade amazonense. Elegeu-se prefeito de Manaus, numa coligação pela mudança social. O que fez? Qual o balanço de sua gestão? A oposição diz que a cidade está esburacada, que a água não chega a vários bairros, que foi um erro nomear seu filho Marcelo Corrêa secretário de articulação política, que Serafim foi um prefeito singular: construiu apenas uma creche, um viaduto, uma maternidade, um centro de educação especial e reformou um cemitério. Tudo no singular.

Numa democracia, esse é o papel da oposição: criticar. Não moro em Manaus, não contei os buracos nas ruas. Aqui de longe não posso ver a árvore, é verdade, mas vejo o bosque, a floresta, que quem está perto não enxerga. Assim, distanciado, me parece que sua singularidade foi outra. Sabe qual foi? Em vez de meter o pé-de-cabra nos cofres públicos para enriquecer, ele tentou promover o bem comum, com erros e acertos, divorciando a política da bandidagem. Isso, no Amazonas, é singular.

O bem comum consiste na defesa dos direitos e deveres do cidadão, sobretudo os mais frágeis, os lascados, os humilhados, os excluídos dos serviços de educação e saúde. Em quatro anos, Manaus se tornou a terceira cidade brasileira em número de alunos na rede municipal de ensino, perdendo apenas para o Rio e São Paulo. São 247 mil crianças, com aulas dadas por mestres valorizados. O professor de 20 horas, nível 1, ganhava R$ 509,00, no início da gestão. Hoje, ganha R$1.095,00, um aumento de 115%, numa inflação acumulada no período de 26,7.

Fala aos moços

E daí, Serafim? Qualquer prefeito pode construir, reformar, ampliar e climatizar as escolas municipais, fornecer merenda, uniforme e kit escolar com uma original borracha socialista, como foi feito (Taquiprati, 02/04/06). Sua gestão escolheu diretores das escolas com base no mérito e não no apadrinhamento de edis trambiqueiros, olhou para os índios urbanos, garantiu um Plano de Cargos para a área da saúde, reformou 158 casinhas do médico da família, implantou o remédio fácil, criou um fundo de previdência para funcionários. E daí? Nada disso teria valor, sem transparência.

Essa foi sua grande singularidade. Todas as contas da Prefeitura estão na internet. È possível saber o credor e o valor recebido, a arrecadação de tributos, fluxo de caixa, pagamentos. A Prefeitura de Manaus, uma das primeiras do Brasil que implantou este serviço, emite nota fiscal eletrônica, criou comissões de licitações, com realização de pregão – um leilão ao contrário - o que gerou uma economia significativa para os cofres públicos. A transparência do pregão eletrônico fez com que empresas de outros estados passassem a disputar a licitação e a prestar serviços para a prefeitura.

O Governador Vitório acharia que só um ‘otário’ abre o jogo assim e sai do governo com os mesmos bens com os quais entrou, conforme mostra a declaração de bens publicada no Diário Oficial do Município (23/12) de Serafim, um prefeito realmente singular, pois provou que é possível viver no chiqueiro sem se emporcalhar. Ensinou que se pode perder uma eleição com elegância, serenidade e sabedoria. Quem sabe, isso não estimula os jovens bem intencionados a entrarem na política?

Na sua ‘Fala aos moços’, Darcy Ribeiro diz: “Na verdade, somei mais fracassos que vitórias em minhas lutas, mas isto não importa. Horrível seria ter ficado ao lado dos que nos venceram nessas batalhas”. Suspeito que os eleitores de Serafim compartilham esse sentimento, sabendo que a luta continua. Ele, que agora conhece melhor a máquina, tem o dever de nos ajudar a defender essas conquistas da sociedade amazonense contra sua raiz histórica apodrecida.

P.S. 1 – A coluna criticou aqui a gestão Serafim, sobretudo na questão ambiental, onde faltou coragem para defender os fragmentos de floresta na cidade. Se ele fosse reeleito, as criticas continuariam, com gozação sobre a inauguração do cemitério no último dia do ano. Esperamos sua volta ao poder para cobrar dele umas boas chineladas na bunda do Marcelo, cuja eleição para deputado federal, na forma como foi feita, contribuiu para selar a derrota do pai na prefeitura.

P.S. 2 - Artigo similar – Os dois filhos de arigós - reconhecendo a contribuição de Arthur Neto e Felix Valois para a vida política do Amazonas foi publicado em 29/12/1992 (www.taquiprati.com.br).

José Ribamar Bessa Freire, até onde consta nos autos, um cidadão amazonense sem cargo na Prefeitura.

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