sábado, 17 de janeiro de 2009

Vetores da existência

"A coisa mais injusta sobre a vida é a maneira como ela termina. Eu acho que o verdadeiro ciclo da vida está todo de trás para frente. Nós deveríamos morrer primeiro, nos livrar logo disso. Daí viver num asilo até ser chutado para fora de lá por estar muito novo. Ganhar um relógio de ouro e ir trabalhar. Então você trabalha 40 anos até ficar novo o bastante para poder aproveitar sua aposentadoria. Aí você curte tudo, bebe bastante álcool, faz festas e se prepara para faculdade. Você vai paro colégio, tem várias namoradas, vira criança, não tem nenhuma responsabilidade, se torna um bebezinho de colo, volta paro útero da mãe, passa seus últimos nove meses de vida flutuando.E termina tudo com um ótimo orgasmo! Não seria perfeito?". Foi Chaplin quem escreveu isso. No século 19, o escritor irlandês Oscar Wilde abordou o envelhecimento no romance “O Retrato de Dorian Gray”. Nele, o personagem principal, um homem extremamente vaidoso, enlouquece ao permanecer jovem, enquanto um retrato seu, escondido num armário, envelhece.

Baseado num conto do escritor F. Scott Fitzgerald, “O Curioso Caso de Benjamin Button” também aborda o envelhecimento. Benjamin (Brad Pitt) nasceu no dia em que a Primeira Guerra Mundial terminou, em 11 de novembro de 1918. Enquanto as pessoas comemoravam nas ruas de Nova Orleans, o protagonista nascia de um parto que acabou levando a vida de sua mãe. Mas Benjamin nasce com uma doença: um bebê velho, à beira da morte, que rejuvenesce na medida em que os anos avançam. Dessa forma, ele está fadado ver morrer todos que ele ama, numa trama sempre pontuada por nascimentos e mortes. Abandonado pelo pai na porta de um asilo, é acolhido por Queenie, que, considerando o bebê idoso um milagre de Deus, o acolhe como filho. A fábula é acompanhada por meio de um diário escrito por Benjamin, que, no fim de sua vida, foi parar nas mãos de Daisy (Cate Blanchett), o amor de sua vida. Ela está no leito de morte enquanto o furacão Katrina ameaça destruir Nova Orleans, o que realmente ocorreu em 2005. Enquanto sua filha Caroline lê o diário, a história se desenvolve na tela.

O filme fez-me pensar nas finitudes, nos ciclos das coisas, que nascem, crescem e morrem. Envelhecer é o caminho de todos antes da morte, a única certeza que temos na vida e que, por isso, inquieta tanto. A metáfora possível é a de que uns envelhecem e outros rejuvenescem. Há vetores que escolhemos na vida: viver na memória, com a memória ou sem memória? Não damos conta, mas essas escolhas são nossas.

Este é um filme sobre oportunidades, mesmo as que não agarramos. Elas também fazem parte de nossa história. É preciso ter força para se levantar após a queda, para se saber diferente e conviver com a diferença. A vida é amor e perda, alegria e tristeza, felicidade e dor. Vivamos o presente porque nunca sabemos o amanhã. Aprendamos a envelhecer e a viver com o que temos, sem nunca perder o brilho nos olhos. Esse é um filme para sair do cinema, lembrar dos que amamos e jurar para si mesmo: preciso viver a felicidade aqui e agora. Com o nosso termpo marcado, é desperdício viver a vida alheia. Não adianta fazer um relógio magnífico que gire para trás, como faz relojoeiro cego que o instalou na estação de trem da cidade, para que quem o visse pudesse imaginar que seus filhos não tinham morrido na guerra, mas estavam retrocedendo da trincheira para a vida que poderia ter acontecido. Por mais que se dance, como Daisy, envelhecer é exato, preciso. Ainda que viver não o seja, como diz Fernando Pessoa.

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segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Anacronismo administrativo


Passados quase quinze dias da posse do prefeito de Manaus, pouco se vê de novo. Paráfrase: muito se vê do velho. As práticas de Amazonino voltaram: nomeações da filha, da filha do desembargador, da irmã do vice, da esposa do também nomeado Sidney Leite. Num típico caso de discurso – em que mudando-se as posições mudam os sentidos – nepotismo virou competência técnica e aclamação popular. “Não há nepotismo em cargos de confiança”, afiançou um advogado do grupo, levando a crer que nepotismo mesmo então só em concursos públicos.

Quem acreditou nas promessas do prefeito começa a ficar desconfiado de que levou sorva por uva. As mil creches (0,7 por dia até o fim do mandato) viraram a promessa de casas de Mãe Social, um programa assistencialista sem cunho pedagógico criado na época de Alfredo Nascimento e que Serafim tinha autorizado a desfazer aos poucos. Creche de verdade, com equipe pedagógica responsável pela educação infantil, como prega a Lei de Diretrizes e Bases da Educação e como a que construiu Serafim, não dá. “É muito caro”, disse o prefeito, desconhecendo que caro ou não a educação infantil é dever da prefeitura. O turno intermediário não vai acabar nem vai a prefeitura pagar escola particular para quem nele estuda. A razão: é infactível em curto prazo e não há recursos para isso. Nas Zonas Leste e Norte simplesmente não existem prédios para alugar, obrigando a Secretaria de Educação a usar o intermediário até construir.

Por falar em SEMED, a secretária Therezinha Ruiz anulou o pregão do fardamento e do kit escolar. Para mudar as especificações, diz que. Em quatro anos o grupo do Sarafa não aprendeu a especificar cadernos nem fardamento, coitados. A explicação, ridícula para quem conhece um pouco como a coisa funciona, não vai evitar que as crianças iniciem o ano letivo sem a fardinha e sem cadernos. E com intermediário. Tudo como antes.

Na Secretaria de Obras, Américo Gorayeb demitiu 600 laranjinhas. É a urbanidade prometida. O secretário ainda não tapou um só buraco até agora. O prefeito cancelou contratos de construção de escolas – que iriam diminuir o tal do intermediário – e disse que os projetos dos prédios da educação vão voltar a ser gerenciado pela SEMOSB, revertendo a mudança feita por Serafim para dar mais rapidez às construções.

Fato é que a administração de Amazonino Mendes está perdida e não sabe por onde ir. Com os quatro anos de Serafim, a imprensa e os formadores de opinião aprenderam a ler diários oficiais e a cobrar transparência. Amazonino trouxe o mesmo time, que não sabe jogar no campo em que a informação escorre por todo lado. Não há como fazer licitação às avessas ou prender a informação. E a administração atual fica nua. A estratégia de culpar a administração anterior por ter pretensamente deixado a prefeitura um caos já está perdendo o gás. Mas ainda há as costas largas da crise para levar a culpa.

A equipe de Amazonino é, grosso modo, anacrônica. São pessoas – a começar pelo prefeito – que preferem o dominó à Internet. Salvo exceções de sempre, aprenderam a governar antes do advento da era da informação, cujos bits respiramos, e têm dificuldade em administrar fora de seu tempo. Até o Ronaldo Tirantes sentou a ripa no prefeito. Se o Ronaldo Tiradentes fez isso, aí tem. O barco deve estar fazendo água mesmo. E nem saiu do porto de lenha.

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