sábado, 29 de novembro de 2008

Marina doente...

Ter uma filha doente nos torna mais crentes em Deus. A gente reaprende a rezar. Por falar em Deus, tem uma falha no seu projeto de pai: a incapacidade de transferência de doenças. Todo pai ou mãe deveria ter o direito de dizer "passa pra mim" e ver, feliz pela recém-adquirida enfermidade, seus amores em forma de gente correndo, rindo e espalhando brinquedos pela sala. Continuo rezando pela melhora da minha caçula, a minha alegria, a minha Marina morena.

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Um Cd para ouvir sempre

BROTHERS IN ARMS, do Dire Straits

Quinto disco do Dire Straits, Brothers in Arms fez sucesso por aqui em 1986. Tem as seguintes faixas:

"So Far Away"
"Money for Nothing"
"Walk of Life"
"Your Latest Trick"
"Why Worry"
"Ride Across the River"
"The Man's Too Strong"
"One World"

"Brothers in Arms"

Todas são do Mark Knopfler. "Money for Nothing" é dele e do Sting, que faz uma participação. Não tem como eu não ouvir isso sem voltar no tempo e lembrar até do cheiro de mato do campus universitário naquele que foi meu primeiro ano de faculdade. "So Far Away" me lembra as aulas de filosofia do Bosco Araújo. O sax de "Your Latest Trick" me faz tremer as carnes de nostalgia. O solo de teclado de "Walk of Life" lembra realmente o novo estilo de vida que se fundava na cabeça de um garoto de 17 anos com as leituras de Henry Lefevre em Sociologia. E "Brothers in Arms", bem... só ouvindo de novo. Vou lá agora.

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Um texto antigo para recordar...

ABC no Céu

“Unidade Educacional Solon de Lucena/Subunidade Educacional Leonilla Marinho/Manaus, 26 de abril de 1975/Diretora: Dalva Pereira Vieira/ Professora: Helena Ferreira de Carvalho/Série: 1ª/Turma: A”. Nunca esqueci esse cabeçalho. Com breves variações, ele me acompanhou durante os quatro anos do meu primário.

Manaus não era tão grande e o Grupo Escolar Leonilla Marinho, uma escola pública modelo, era subordinado ao Solon de Lucena. Lembro com saudade do Grupo, como chamávamos carinhosamente o Leonilla. Jambo & Ruivão, Manda-Chuva, Leão da Montanha e outros personagens feitos de cartolina e pregados no isopor enfeitavam o saguão principal. A escola impecável era imagem da gestão da dona Dalva, a diretora. Não é surpresa para quem trabalha com educação: a escola é a cara de seu gestor. Dona Dalva controlava o Grupo com autoridade. Quando se ouvia sua voz, a palavra que vinha à mente era disciplina.

Era subsecretário ainda quando um dia recebi um recado. Minha secretária disse que a Samara havia ligado dizendo que a missa da professora Helena seria na segunda seguinte, na Igreja de Lourdes e que a dona Dalva estaria lá. Samara é uma das cinco filhas da professora Helena e a professora Helena é a professora do meu cabeçalho da 1ª série.

A última vez que falei com a professora Helena foi quando ela foi à Semed, justamente com a Samara, fazer uma visita de cortesia. Éramos dois orgulhosos. Eu, por apresentar aos que trabalham comigo a pessoa que me ensinou a ler, e ela, por ver um de seus “meninos” em uma função de extrema responsabilidade social. Há anos não a via, mas há presenças que mesmo na ausência se fazem fortes.

Em nossa memória afetiva há sempre um lugar para o que nos constitui, a despeito de distância geográfica ou temporal. O Grupo foi ampliado, perdeu o pátio, não tem mais a disciplina da dona Dalva, a merenda da Chiquinha e nem a Penélope Charmosa na parede. O antigo quadro-verde está órfão de sua maestrina. Sua régua de madeira de 50 cm era a batuta com a qual regia a entrada dos meninos no universo do ABC. A Balainha, que dançava com a Beth Diger nas festas juninas, já não cruza mais seus arcos coloridos no ar.

Fui à missa da professora Helena. A dona Dalva estava lá. O recado da Samara sobre sua presença foi uma forma de mobilizar a disciplina para que eu comparecesse. Nem precisava. Lá estavam várias ex-professoras do Grupo, entre elas a minha mãe, Helena Freire, e a professora Machadinho, além de ex-alunos. Ao dar o abraço silencioso nas filhas, eu chorei. Chorei porque percebi o quanto a professora Helena fez diferença em minha vida. Dei-me conta de que o maior desafio dos professores de hoje é se fazer presentes na memória afetiva de seus alunos para sempre, como a professora Helena Carvalho se faz na minha.

Do meu cabeçalho agora um nome se faz ausente. Bateu a campa do tempo da vida terrestre da minha professora. Mas o Grupo do céu está mais feliz, pois a mesma campa bateu para a entrada lá. Com suas fardinhas brancas e congas azuis impecáveis, os anjos fizeram fila e já foram para a sala. Certamente se levantaram e em voz uníssona, típica das crianças, reverenciaram: “Bom dia, professora Helena!” Ela deu bom-dia sorrindo, batuta à mão, e foi para o quadro ensiná-los a ler. Minha professora sabia fazer isso como ninguém.

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sexta-feira, 28 de novembro de 2008

São Paulo e Fluminense

A presidente das eleições de 2008, juíza Maria Eunice Torres do Nascimento, cassou os registros de candidatura do prefeito eleito Amazonino Mendes (PTB) e do vice, o deputado federal Carlos Souza (PP). A juíza determinou ainda o impedimento da expedição dos diplomas de ambos pelos crimes de captação ilícita de votos por conta da distribuição de vales-combustível e da distribuição de material de propaganda eleitoral realizados, conforme investigações da Polícia Federal, no final da noite de 4 de outubro, véspera do 1º turno das eleições municipais.

Essa notícia tomou conta das manchetes dos jornais de Manaus e deu até no Jornal Nacional de hoje, 28. Segundo o noticiário, se a decisão da juíza for confirmada pelo Pleno do TRE, quem assumirá como prefeito será o segundo colocado, Serafim Corrêa. Final do ano com Papai Noel antecipado? Não. Sinceramente está mais para Primeiro de Abril fora de época.

Amazonino Mendes furou a lei e, portanto, deveria pagar pelos seus pecados. Acontece que em Manaus, diferente do ditado, lex non est dura, sed mollis. Para quem não fez latim, traduzo: a lei não é dura, mas flexível. Vejamos o caso do vereador eleito Henrique Oliveira, apresentador do programa “Fogo Cruzado”. A lei diz que servidor do TRE, caso de Henrique, não pode ter filiação partidária. Quem conduz o pleito não pode ter, literal e retoricamente, partido algum, muito menos concorrer a cargo eletivo. Para apelar para as metáforas futebolísticas de que tanto gosta o presidente, seria mais ou menos como se o juiz do jogo que pode decidir o Brasileirão, São Paulo e Fluminense, fosse sócio-fundador do tricolor paulista. Pode até torcer, mas não se pode declarar partidário. A regra é clara, diria o Arnaldo César Coelho. Pois é. Mas o pleno do TRE (o mesmo que vai julgar Amazonino), por 4 x 2 deu vitória a Henrique e derrota à lei. O juiz Elci Simões, justificando o voto, disse que essa lei é velha, herança da ditadura. Mas, data venia, pelo pouco que entendo de direito – e estou com minha opinião na companhia do procurador eleitoral André Lasmar –, se há lei, ela deve ser cumprida até ser revogada por norma posterior. Rábula abusado eu.

Pela manhã, ouvi na CBN o advogado do dono do posto de combustível envolvido na lambança fazer a defesa de Amazonino com mais veemência do que a de seu cliente. O argumento é um primor. Dizia o advogado que existe no direito o princípio da proporcionalidade. Mesmo que as 420 requisições aprendidas e que são provas nos autos do processo fossem multiplicadas por dez, isso seria muito pouco frente aos mais de 120 mil votos de diferença de Amazonino para Serafim. Deixa-se de discutir a qualidade da transgressão e se passa a focar a quantidade. É a versão jurídica do “estupra, mas não mata”. Foi só um escapadinha, um deslize, um fraquejo. Só a cabecinha, diriam os mais sexualmente metafóricos. Aparte: o risinho sem graça do Ronaldo Tiradentes ao perceber que mesmo remotamente Serafim poderia voltar a ser prefeito foi indisfarçável. Deu para ver no rádio. Juro.

Contra-argumentos já pululam na defesa de Amazonino. Nos blogs, vejo opiniões que vão do “deixem o Amazonino em paz!” – como se isso fosse uma questão de picuinha de vizinhos – até “a vontade do povo precisa ser respeitada” – como se isso justificasse passar por cima da lei. Linchamento é pura vontade do povo também. Que há margem de interpretação em qualquer lei, não há dúvida, pois é linguagem. É por aí que a decisão de engavetar mais essa deve vir. Sou cético. Para mim, Primeiro de Abril 1 x 0 Papai Noel. Ponho mais fé que meu Flu vai estragar a festa do São Paulo domingo. É fogo. Cruzado.

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quinta-feira, 27 de novembro de 2008

A super-sincera...

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Deus me livre!

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"Vista Cansada", de Otto Lara Resende.

“Uma criança vê o que um adulto não vê. Tem olhos atentos e limpos para o espetáculo do mundo. O poeta é capaz de ver pela primeira vez o que de tão visto ninguém vê. Há pai que nunca viu o próprio filho. Marido que nunca viu a própria mulher. Isso existe às pampas. Nossos olhos se gastam no dia-a-dia, opacos.
É por aí que se instala no coração o monstro da indiferença”.

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De repente, li e me identifiquei...


Trocaria a jabuticaba por pitombas e o cargo de secretário do coral por qualquer outro pelo qual vivem brigando. No resto, assino embaixo. Na foto, minha vozinha chupando pitomba.

"Contei meus anos e descobri que terei menos tempo para viver daqui para frente do que já vivi até agora. Sinto-me como aquele menino que ganhou uma bacia de jabuticabas. As primeiras, ele chupou displicente, mas percebendo que faltam poucas, rói o caroço.

Já não tenho tempo para lidar com mediocridades. Não quero estar em reuniões onde desfilam egos inflados. Não tolero gabolices. Inquieto-me com invejosos tentando destruir quem eles admiram, cobiçando seus lugares, talentos e sorte.

Já não tenho tempo para projetos megalomaníacos. Não participarei de conferências que estabelecem prazos fixos para reverter a miséria do mundo. Não quero que me convidem para eventos de um fim de semana com a proposta de abalar o milênio. Já não tenho tempo para reuniões intermináveis para discutir estatutos, normas, procedimentos e regimentos internos...

Já não tenho tempo para administrar melindres de pessoas, que apesar da idade cronológica, são imaturos. Não quero ver os ponteiros do relógio avançando em reuniões de "confrontação", onde "tiramos fatos à limpo". Detesto fazer acareação de desafetos que brigaram pelo majestoso cargo de secretário do coral.

Lembrei-me agora de Mário de Andrade que afirmou: "as pessoas não debatem conteúdos, apenas os rótulos". Meu tempo tornou-se escasso para debater rótulos. Sem muitas jabuticabas na bacia, quero viver ao lado de gente humana, muito humana; que sabe rir de seus tropeços, não se encanta com triunfos, não se considera eleita para a "última hora"; não foge de sua mortalidade, defende a dignidade dos marginalizados, e deseja andar humildemente com Deus. Caminhar perto delas nunca será perda de tempo."

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Começou antes de começar

Não há eleição que não coloque a educação no meio das promessas e mudanças. Todos reclamam da qualidade da educação, do baixo desempenho dos alunos nas avaliações, dos baixos salários dos professores. Por conta disso, em véspera de pleito, a educação nórdica é prometida: rever Plano de Cargos e Salários dos professores, implantar escolas de tempo integral, construir mais creches. Na eleição para prefeito, o então candidato Amazonino Mendes prometeu até colocar as crianças em escolas particulares para acabar com o intermediário, além de garantir dar o que já existe: merenda e fardamento de qualidade.

De onde vem o dinheiro para que seja feito o que se promete? Fundamentalmente de duas fontes: do repasse do FUNDEB - Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação - feito pelo Governo Federal e dos recursos próprios da Prefeitura. O repasse do FUNDEB é feito em função do número de alunos matriculados nos dois níveis que o Município atende, a Educação Infantil e Ensino Fundamental. Dos recursos próprios, a Constituição define para os Municípios a aplicação em educação de percentual mínimo de 25% da receita proveniente de impostos, facultando um percentual maior a ser definido na Lei Orgânica do Município. Em Manaus, a Lei Orgânica prevê em seu Art. 354 o investimento de 30%.

Como não há mágica na administração pública, mas lógica, conclui-se: para fazer mais é preciso aumentar os recursos ou redimensionar os existentes em função de outras prioridades. O problema é que querem diminuir. O prefeito Serafim Corrêa enviou à Câmara proposta de emenda à Lei Orgânica solicitando a redução dos 30% atuais para 25%, a pedido do prefeito eleito Amazonino Mendes. Uma vitória histórica, o percentual maior do que o previsto na Constituição ameaça ir para o saco, numa clara sinalização de que a educação não será a prioridade decantada nas promessas de campanha. Ou então o prefeito eleito é mágico: como reduzir em mais de R$ 100 milhões o que estava previsto para a educação no orçamento e fazer a miríade de coisas que prometeu?

Ainda por cima, temos que agüentar o vereador Fabrício Lima dizendo que “estão transformando a discussão em cavalo de batalha”. A educação, esquece-se o edil, é um dos cavalos de batalha da sociedade, sim. Tudo bem que Fabrício Lima precisa garantir um lugar ao sol, depois de ser limado da Câmara pelos eleitores, mas defender a redução de recursos da educação é demais. Não vale a puxada de saco. Pergunto: cadê o Sindicato dos Professores? Onde estão os estudantes que não pintam as caras? E o Ministério Público, tão atuante nos últimos quatro anos?

O prefeito Serafim Corrêa não está sendo cavalheiro com o prefeito eleito, como pode parecer. Está sendo permissivo, deixando Amazonino administrar a cidade desde já. Como prefeito de direito, Serafim deveria se negar a acatar esse pedido e deixar que o ônus político da decisão coubesse ao prefeito eleito no próximo orçamento. Porque lá na frente Amazonino, com sua fleuma peculiar, ainda vai dizer que quem reduziu o percentual foi Serafim.

A mim pouca surpresa causam iniciativas dessa linha. O novo aqui é que dessa vez o troço começou antes de começar.

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terça-feira, 25 de novembro de 2008

Drummond e o discurso... eis um poema discursivo.

Verdade 

A porta da verdade estava aberta,
mas só deixava passar
meia pessoa de cada vez.

Assim não era possível atingir toda a verdade,
porque a meia pessoa que entrava
só trazia o perfil de meia verdade.
E sua segunda metade
voltava igualmente com meio perfil.
E os meios perfis não coincidiam.

Arrebentaram a porta. Derrubaram a porta.
Chegaram ao lugar luminoso
onde a verdade esplendia seus fogos.
Era dividida em metades
diferentes uma da outra.

Chegou-se a discutir qual a metade mais bela.
Nenhuma das duas era totalmente bela.
E carecia optar. Cada um optou conforme
seu capricho, sua ilusão, sua miopia.



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