quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Dia dos Professores

Dentre as certezas que tenho na vida estão o amor incondicional pelos meus, o dever inalienável de ser feliz e a certeza de que estou na profissão certa. Escrevi este texto sobre professores tempos atrás e agora compartilho com vocês:

PROFESSOR: LUTHIER DE GENTE

Um luthier é um alguém especializado na feitura artesanal de instrumentos de corda, como o violino. O termo luthieria designa a arte da construção de instrumentos.

Aprendi a palavra em uma revista e imediatamente veio a analogia. Assim como há empresas que produzem instrumentos em escala comercial e há luthiers que fazem da construção artesanal de cada item um prazer, há professores que concorrem para a fabricação em série de alunos e há outros que são verdadeiros luthiers de cidadãos.

Da mesma forma que as empresas buscam a qualidade total e a certificação da perfeição nos seus inúmeros ISOs, alguns professores também crêem que só podem educar se tiverem as condições finlandesas de trabalho. Tudo a favor da busca pelo ideal, pois sem horizontes o sonho nem nasce.

Mas enquanto se caminha para o ideal intangível em curto prazo, não podemos nos imobilizar sob o risco de deixar nossos alunos sem direito à educação significativa. Os professores que só se dispõem a descruzar os braços e fazer diferença nas condições ideais são professores ISO.

Por outro lado, há uma boa parcela de professores que não faz das dificuldades cotidianas justificativas para um imobilismo que desconsidera o aluno que vai à escola em busca de um ensino significativo. São profissionais e como tais cuidam de seus alunos com o carinho com que os luthiers recebem a madeira para transformá-la em violino em seus ateliês, às vezes sem as condições ideais de trabalho. E seu trabalho é uma arte. Consideram cada aluno uma peça única, um ser humano fora de série e não produzido em série. Exatamente por ter a dimensão de seu trabalho de luthier de gente, esses professores são críticos, sem cair na falácia da crítica pela crítica. Criticam o desgosto do mundo, a fealdade da alma, sem se eximir, por causa dessa tarefa, de sua função de luthier de gente. O luthier acredita que sua mão faz diferença e por fazer a diferença zela pelos seus movimentos e evita os bruscos. Sabe que basta um descuido e lá se vai a peça única.

A identificação do professor com o ISO ou com o luthier depende de seu compromisso. Compromisso com a criança e com a profissão que escolheu ou que o escolheu. Na escola de hoje, por ser a escola da heterogeneidade e das diferenças, cada aluno é único (daí a palavra “indivíduo”), com sua história, sua subjetividade. Para sermos intelectualmente honestos, a escola que temos ainda é diferente da que queremos em vários aspectos. No entanto, para que possamos diminuir o fosso entre a escola que temos e aquela que queremos faz-se preciso caminhar nos limites das possibilidades da escola que temos, sem perder de vista o prazer de fazer das nossas mãos instrumentos de construção de sujeitos, de cidadãos melhores. A escola é ateliê para luthiers, não uma fábrica para peões pedagógicos.

Vieram à mente as palavras de Rubem Alves. A escola é a morada para educadores-jequitibás e não para professores-eucaliptos. Eucaliptos dão aos montes, mas não têm consistência. Já o jequitibá leva anos para ser o que é, imponente, consistente. Parabéns ao professores pelo seu dia. Que tenhamos cada vez mais luthiers de gente ampliando a floresta dos jequitibás da educação.

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