sábado, 11 de outubro de 2008

Arca de Noé

[A pedidos, o texto da minha vida]: A Arca de Noé

O mundo ia acabar e Noé, reencarnado, foi convocado novamente. Dessa vez foi pedido a ele que colocasse na Arca professores. Um de cada tipo. Acostumado a salvar animais do dilúvio, Noé resolveu fazer uma correspondência dos tipos de professores com os tipos de animais para lhe facilitar a vida.

O primeiro que Noé encontrou foi o professor-coruja. Esse professor é um sabe-tudo e nada tem a aprender com ninguém. Crê que já galgou o conhecimento e pronto. Vive corrigindo todos do alto de seu pedantismo. Desconfiou, claro, quando soube do dilúvio. Como era possível que ele, que tudo sabia, dele não soubesse? O diligente Noé continuou cumprindo sua missão. Deparou-se com o professor-preguiça. Folgado, o preguiça enrola para tudo. Sempre faz no seu ritmo, pouco se importando com os outros. Faz par com ele o professor-avestruz, que evita assumir responsabilidades. Sempre que isso se lhe impõe, enfia a cabeça na terra e faz de conta que não é nem com ele.

Trabalho mesmo foi convencer o professor-galo a subir a bordo. O galo é travoso, posudo e vive a entoar discursos contra a globalização e o neoliberalismo, mas dar aulas mesmo que é bom, nada. Acabou entrando, mas não sem antes pendurar na Arca uma faixa vermelha com frases de protesto, sua especialidade. Depois do galo, subiu o professor-pavão. Extravagante, o pavão faz tudo para aparecer. Impossível não notá-lo.

O professor-cobra também foi à Arca. Por Noé, o cobra não iria, pois é venenoso e maledicente. Mas Noé estava cumprindo ordens e o cobra ficou. Outro convidado a contragosto a embarcar foi o professor-urubu. Como todos sabem, o urubu gosta de carniça, da coisa podre. Faz parte do grupo do quanto pior, melhor. É catastrófico e tudo para ele é razão do apocalipse. Ele ficou feliz com o iminente dilúvio porque a perspectiva do fim do mundo, justificativa que sempre o impediu de trabalhar, estava virando realidade.

E assim foi. Entraram ainda o professor-anta, que é professor não se sabe como, o professor-lombriga, que por qualquer coisinha tira uma licença médica, o professor-borboleta, que fica ali quietinho na sua crisálida, alheio à floresta que o cerca como se nada fosse com ele. Vieram ainda o professor-hiena, que ri de tudo, o professor-onça, que ensina na base do medo, e o professor-leão, líder dos outros professores. Chegaram juntos o professor-morcego, que voa às cegas e dá aulas sem prepará-las, o professor-peixe, que se não estiver num ambiente 100% perfeito não sobrevive (e até agora me pergunto porque salvar um peixe do dilúvio) e o professor-aranha, que gosta de pôr armadilhas para seus alunos caírem. Muito aplaudido foi o popular professor-cigarra, que com seu violão sempre anima as culminâncias pedagógicas.

Quando a Arca já ia sair, alguém se lembrou de avisar Noé que ele havia esquecido o professor-formiga. O formiga faz seu trabalho individual, mas pensando no coletivo. É eficiente sem muito alarde. Noé parou e foi buscá-lo. Se os outros estavam na Arca, por que logo o formiga, o exemplo, ficaria de fora? Se bem que na vida real, quase sempre os outros não deixam muito espaço para ele mesmo. Suspeita-se até que está em extinção. Poucos sabem, mas o nome da Arca de Noé era Escola.

7 comentários:

Unknown disse...

Excelente...era esse escrito que estava a tempo querendo ler...Gostei muito e os professores que não gostaram é porque se identificaram com alguns daqueles animais, que com certeza não era a formiga. kkkk
LU

Anônimo disse...

Olá professor Sergio (sub-bionico),infeliz seu comemtariozinho sim,porque me recuso a chamar isso de texto......amarga agora a vitoria do Amazonino e sua impossivel volta ao cenario publico com bom salario....kkkkkkkkkkkk

sérgio Ricardo disse...

esse anonimo é um ruelo, caiu na rede sem querer, foi a venda e quer ser chamado de tambaqui. vc pra postar um comentário desses só pode ser um priguissa, ou um barata, pode até não ser professor, mas sera um eterno barata.
parabens professor sérgio, vc é um excelente escritor e professor, e mais, esse seu nome é o meu tambem, portanto, acho q inteligencia é privilégio de poucos e iguinorância é burrice de muitos.

juliana disse...

Kkkkk! Muito show esse texto. Estou me formando em letras e meu professor de análise do discurso pediu para lermos e analisarmos. Eu adorei! Parabéns professor Sérgio por sua observação. Abraços!

Unknown disse...

Esse texto ainda é contemporâneo...

Angelica disse...

Kkkkk... amei!
Acho que sou vários

Unknown disse...

É top de mais